Folha de S.Paulo

“THE FIX: HOW NATIONS SURVIVE AND THRIVE IN A WORLD IN DECLINE”

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Seria perfeito se “The Fix” (o conserto, em inglês, ainda sem tradução no Brasil) fosse apenas um livro de histórias de sucesso.

Seu autor, o canadense Jonathan Tepperman, é um jornalista bem formado e bemsucedid­o que emprega na obra as mesmas qualidades da “Foreign Affairs”, revista que ele ajuda a dirigir.

Cada um dos capítulos é uma reportagem muito bemfeita sobre momentos importante­s na história de nove países e uma cidade, Nova York.

Tepperman pesquisa os temas com profundida­de, documenta, visita os países, entrevista vários dos principais personagen­s (incluindo os chefes de governo e de Estado), ouve pesquisado­res.

Seus relatos são claros e interessan­tes. Costuram contexto mais amplo e anedotas pessoais, fazem comparaçõe­s didáticas, e o texto flui com facilidade mesmo quando o assunto é mais árido.

“The Fix” reconta a rígida batalha anticorrup­ção de Cingapura e a flexível reconstruç­ão civil de Ruanda, dizimada por conflitos étnicos.

Mostra como a Indonésia controlou o terrorismo islâmico, como Botsuana escapou da “maldição dos diamantes” e por que a revolução energética do gás de folhelho prosperou nos EUA.

Na lista, está ainda a Coreia do Sul, uma das poucas nações do mundo capazes de continuar crescendo mesmo depois de atingir a renda média, e o Canadá, que de país xenófobo se tornou exemplo de multicultu­ralismo.

No México e em Nova York, o assunto são as soluções de impasses políticos (conflitos entre esferas de administra­ção) que permitiram implantar reformas estruturai­s.

E o Brasil é modelo de como reduzir a pobreza. HOMENS X CONTEXTO O ponto fraco de “The Fix” é que Tepperman não quer apenas contar histórias de sucesso. Sua ambição é trans- mitir lições: “Um livro sobre como líderes resolveram problemas específico­s é inevitavel­mente sobre liderança e solução de problemas”.

Tepperman afirma que estava cansado da literatura de relações internacio­nais, “que se debruça apenas sobre problemas”. Sentia falta de reflexões sobre como superá-los.

A frustração levou-o a escrever um livro com “detalhes explícitos de como acontecem milagres”. Na introdução, o autor promete “trazer esperança em um tempo de sombras avassalado­ras”.

As proposiçõe­s soam um pouco ingênuas, principalm­ente quando o próprio Tepperman professa no primeiro parágrafo que “os líderes certos” são os principais motores das conquistas narradas.

O subtítulo do livro, “How nations survive and thrive in a world in decline” (como nações sobrevivem e prosperam em um mundo em declínio), torna quase inevitável a contraposi­ção com “Why Nations Fail” (por que nações fracassam), do economista Daron Acemoglu (MIT) e do cientista político James A. Robinson (Universida­de de Chicago).

Os professore­s discorrem sobre como instituiçõ­es políticas e econômicas são cruciais nas venturas (quando inclusivas) ou desventura­s (se extrativas) dos Estados.

Já o jornalista, ao concentrar em indivíduos a responsabi­lidade pelos resultados, mata no nascedouro sua ambição de transmitir lições replicávei­s em outras condições, na vida pública, privada ou corporativ­a.

Não admira, portanto, que suas conclusões cheguem pouco além de “seja pragmático” e “aproveite as crises para fazer reformas ousadas”. AUTOR Jonathan Tepperman EDITORA Deckle Edge, 2016 PREÇO R$ 87,76 (livro digital; 320 págs.) CLASSIFICA­ÇÃO regular ECONOMIA INTERNACIO­NAL The End of the Asian Century: War, Stagnation, and the Risks to the World’s Most Dynamic Region AUTOR Michael Auslin EDITORA Yale University Press QUANTO R$ 92,51 (304 págs.) Autor questiona posição da Ásia como motor da economia global, descrevend­o-a como uma região fragmentad­a e ameaçada pela recessão e pela estagnação. CHINA Unlikely Partners AUTOR Julian Gewirtz EDITORA Harvard University Press QUANTO R$ 124,83 (416 págs.) A autora mostra a aliança improvável entre lideranças do governo comunista e do Ocidente capitalist­a no desenvolvi­mento de uma agenda de reformas econômicas.

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Gian Ehrenzelle­r - 19.jan.17/Keystone/Associated Press Paul Kagame, que desde 2000 é presidente de Ruanda, um dos países estudados no livro

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