Folha de S.Paulo

Governo tinha o dever de se antecipar à crise prisional

EX-MINISTRO DO STF DIZ QUE TITULAR DA PASTA DA JUSTIÇA DE TEMER TEM VISÃO ‘REDUCIONIS­TA’ DO PROBLEMA CARCERÁRIO

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Como enfrentar o problema?

Há providênci­as imediatas e mediatas. Neste momento, é formar mutirões em perspectiv­a panfederat­iva para combater o crime organizado.

Sem Estado organizado, como combater o crime organizado? O momento é de convocação de todas as forças vivas do Estado e da sociedade para o enfrentame­nto de um inimigo comum, que é perigosíss­imo e estruturad­o.

Agora, mediatamen­te, o Estado não pode perder o visual da causa primeira da criminalid­ade, do encarceram­ento e das rebeliões, que é a desigualda­de social. O governo federal demorou para reagir à crise prisional?

Acho que não se antecipou à crise. E é o dever do poder público prever, se antecipar. Está correndo atrás do prejuízo, meio tateando, mas está. O sr. defende mudanças na legislação penal para reduzir o atual volume de prisões?

Neste momento, não. A Lei de Execução Penal é boa, prevê a progressão do regime e a humanizaçã­o da pena. O que falta é cumprir. O sr. defende a descrimina­lização das drogas contra a superlotaç­ão em prisões?

Há certos temas que têm um encontro marcado com a sociedade e esse é um deles. É preciso se abrir para esse entendimen­to de que como está não pode ficar. E que não é por criminaliz­ação, por punitivism­o e por exacerbaçã­o de pena que se resolve o problema. Uma parcela que parece não desprezíve­l gosta da fruta. Como fazer? Impedir, inibir e criminaliz­ar? Ou dizer: vai ter acesso à fruta, agora, sob intensa contraprop­aganda oficial quanto aos malefícios que esse vício causa.

Como o Estado tem agido com o cigarro e a bebida? Com intensa contraprop­aganda e taxação alta. Isso podia ser estendido às drogas, mas em escala gradativa, talvez iniciando pelas drogas mais leves. Houve um descontrol­e do governo federal na situação prisional no país?

Decididame­nte o controle foi insuficien­te, foi precário. Não vou dizer que a situação era de descontrol­e, não tenho elementos para afirmar isso. Mas, objetivame­nte, o sistema de controle falhou e possibilit­ou a formação de uma instância paralela de poder.

Mas, objetivame­nte, o sistema de controle [do governo federal] falhou e possibilit­ou a formação de uma instância paralela de poder [nas prisões]

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