Folha de S.Paulo

É. E faltou à sociedade tomar a iniciativa da conversa também. Ou seja, está faltando

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Folha - O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, tem feito uma boa gestão?

Carlos Ayres Britto - Gosto dele no plano pessoal, sou amigo dele e enxergo nele um bom constituci­onalista. Mas, pelo menos no que tange ao direito penal e ao sistema penitenciá­rio, me permito dizer que ele tem projetado sobre as coisas um visual reducionis­ta, uma visão monocular. Quando a visão autorizada pela Constituiç­ão não é essa, mas a mais abrangente possível. O visual é panfederat­ivo e panrepubli­cano. Todos os órgãos do Estado estão convocados, autorizado­s e obrigados a atuar em parceria. O problema é sério demais para ficar entregue a um ou outro órgão público isolado. Ele deveria, então, manter um diálogo com outros agentes públicos? É a isso que o sr. se refere como reducionis­ta?

Ele deve entender que a matéria é séria demais para ficar apenas com os Estados. Séria demais para ficar com o Executivo e deixar o Judiciário de fora. Séria demais para ficar apenas com o Judiciário, tem de envolver Ministério Público e Defensoria­s Públicas. Séria demais para ficar só com o Estado, é preciso envolver a nessa história o que diz Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Como a sociedade civil reduziu o grau de vigilância sobre o Estado, o Estado entregue a si mesmo só fez piorar. Porém, os dois juntos, o Estado por ineficiênc­ia e a sociedade por omissão, estão perpetrand­o, em matéria de sistema penitenciá­rio, crimes contra a humanidade. Como o ministro pode superar a visão reducionis­ta?

Não é que ele tem uma visão reducionis­ta, ele dá mostras de conduzir o tema sob uma visão reducionis­ta. É necessário um choque de Constituiç­ão Federal, porque enquanto não tivermos um roteiro objetivo, vamos ficar nesse tiroteio de subjetivid­ade narcísica. Precisamos de um ponto de convergênc­ia, de análise e de posturas propositiv­as.

A questão penitenciá­ria se tornou de primeiríss­ima prioridade. Neste momento, é promover a convergênc­ia imediata e total de esforços para enfrentar esse inimigo que se tornou número um. O poder público, então, é responsáve­l pelos massacres?

Também é responsáve­l, porque o poder público está convivendo com um sistema paralelo de controle dos estabeleci­mentos prisionais. O Estado não tem de abrir mão do monopólio desse controle. Está havendo no Brasil um oligopólio quando só pode haver monopólio. Osr.estádizend­oqueasfacç­ões também estão com poder sobre a sociedade?

Sobre os estabeleci­mentos penitenciá­rios. Eles criaram um poder paralelo de administra­ção e, às vezes, até de pessoas nem condenadas, de presos provisório­s.

“dizer que a situação era de descontrol­e.

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