Folha de S.Paulo

De que não seria uma continuaçã­o.”

- ÚRSULA PASSOS

DE SÃO PAULO

Marcus Goldman está de volta. O escritor, personagem principal do best-seller “A Verdade sobre o Caso Harry Quebert”, narra agora sua infância e adolescênc­ia ao lado dos primos, com quem formava a Gangue dos Goldman.

Após receber o prêmio de romance da Academia Francesa, ser traduzido em 42 países e vender cerca de 3 milhões de exemplares pelo mundo, o suíço Joël Dicker, 31, retoma seu protagonis­ta.

Se antes Marcus investigav­a o assassinat­o de uma adolescent­e cujo corpo foi encontrado no jardim de seu mentor, em “O Livro dos Baltimore”, que acaba de sair no Brasil pela Intrínseca, ele narra o Drama, com letra maiúscula, que assolou sua família.

Marcus divide sua família em duas: os Goldman-deMontclai­r, seus pais, da classe média de Nova Jersey, e os Goldman-de-Baltimore, seus tios, ele advogado, ela médica, e dois primos, ricos, importante­s e carismátic­os.

“É importante para mim não fazer sempre a mesma coisa, foi um prazer sair do policial para a crônica familiar”, diz Dicker em entrevista­à Folha, por telefone. “Eu escrevo pelo prazer de me lançar a algo que seja um desafio e de sair da rotina.”

Com um narrador que também é um jovem escritor, difícil para o leitor não imaginar que Marcus seja uma espécie de alter-ego de Dicker.

O suíço, porém, rejeita qualquer comparação com o escritor morador de Nova York que, no romance anterior, ajudava seu professor, Harry Quebert, a provar sua inocência num assassinat­o.

“Há um pouco de mim no Marcus porque eu o criei, mas eu não sou esse personagem, e para mim o que é mais importante quando escrevo não é falar da minha vida mas, ao contrário, fazer algo completame­nte diferente.”

Mas, ao longo do livro, co- mo no anterior, Marcus divaga sobre o trabalho da escrita, e ali vê-se Dicker.

“O que Marcus é e o que ele narra não tem a ver comigo, mas, quando ele fala da escrita e de sua relação com ela, é mais pessoal e está ligado ao que eu penso de verdade”, diz de sua casa em Genebra.

A história de “O Livro dos Baltimore” se passa antes da de “A Verdade…”, quando, em 2012, Marcus deixa Nova York para se refugiar na Flórida e escrever um novo livro.

Dicker diz que teve a ideia para esse seu terceiro romance publicado após terminar de escrever o segundo, mas antes de ele ser lançado.

“Eu comecei a escrever antes de saber o sucesso que ‘A Verdade…’ teria”, diz. “As pessoas acham que eu retomei o personagem porque queria que o sucesso se repetisse, mas o que me convenceu a continuar foi a percepção de que eu estava num registro completame­nte diferente, MISTÉRIO Embora o gênero não seja o policial, em “O Livro dos Baltimore” permanece o mistério. O Drama que, em 2004, destrói os Goldman-de-Baltimore, se revela ao leitor apenas ao fim do romance.

Intercalan­do saltos para o passado —em que narra infância e adolescênc­ia com seus primos Hillel e Woody, os três apaixonado­s por Alexandra (que se torna, posteriorm­ente, uma cantora famosa)— e encontros com seu tio Saul, já arruinado pela tragédia, Dicker consegue manter o suspense, e assim, o interesse do leitor, até o fim.

Na Flip de 2014, Dicker disse que o livro levaria que consigo a uma ilha deserta seria “Ratos e Homens”, de John Steinbeck (1902-1968).

O novo romance do suíço ecoa em diversos momentos a obra do americano —essa é também a peça que seu primo Hillel é impedido de montar na escola.

“Em sua obra, Steinbeck narra uma América do interior de forma muito fiel e com um olhar que poucos tiveram”, diz Dicker. “Em ‘Ratos e Homens’ a força dos personagen­s teve grande ressonânci­a sobre mim.”

“acham que retomei o personagem porque queria que o sucesso se repetisse, mas o que me convenceu a continuar foi a percepção de que eu estava num registro completame­nte diferente

AUTOR Joël Dicker TRADUTOR André Telles EDITORA Intrínseca QUANTO R$ 49,90 (416 págs.)

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil