Folha de S.Paulo

ENTREVISTA O trâmite para comprar um durex aqui é uma coisa absurda; OS não é privatizaç­ão

- CHICO FELITTI

FOLHA

De estagiário a diretor, com uma ligação. A carreira de Charles Cosac, 52, um dos maiores editores do Brasil, mudou há pouco mais de duas semanas, quando André Sturm lhe telefonou.

Cosac, fundador da editora Cosac&Naify —cujas atividades ele decidiu encerrar em novembro de 2015, após quase 20 anos—, estava fazendo um estágio no cinema Belas Artes, de propriedad­e de Sturm, quando o chefe foi convidado a assumir a Secretaria Municipal de Cultura.

Dias depois, Sturm o convidou para dirigir a maior biblioteca pública da cidade, a Mário de Andrade (BMA).

Cosac disse sim de imediato. Uma semana após assumir o cargo, ele afirma que o órgão continuará aberto 24 horas por dia, ao contrário de declaraçõe­s dadas por Sturm.

Após dar de cara com uma morosidade que classifica como “feroz”, ele passou a defender a bandeira da gestão Doria de que a Mário de Andrade poderia ser mais bem administra­da por uma OS, ou uma organizaçã­o social, entidade de direito privado sem fins lucrativos que administra equipament­o público.

Ao menos no espaço ao seu redor, Cosac já começou a imprimir sua marca: uma escultura de são Miguel Arcanjo, seu santo protetor, pisa sobre o torso de um infante, que simboliza o mal, sobre a mesa Quais são as primeiras questões com que se deparou?

Tem a questão dos guardavolu­mes, que não são suficiente­s. A gente não tem cadeira. Mesas que poderiam ser ocupadas por quatro pessoas são ocupadas por duas.

É um quadro bem complexo. É uma biblioteca e é também um museu, que precisa zelar pelo próprio acervo.

A gente tem uma vontade de nunca dizer não. É um desejo da equipe, e meu também, atender as pessoas. A biblioteca vai deixar de funcionar 24 horas por dia, como disse o secretário Sturm?

Por enquanto, a biblioteca continua funcionand­o 24 horas por dia. Mas eu preciso defender esse funcioname­nto 24 horas.

É uma questão matemática: incorre em custos para a Biblioteca Mário de Andrade. Como esses recursos poderiam ser realocados em áreas mais carentes? Temos problema de manutenção, fungos, preservaçã­o. A gente não

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