Folha de S.Paulo

Grupo distribui maconha para pedir legalizaçã­o

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Protestos em Washington contra o presidente recémempos­sado, Donald Trump, terminaram com ao menos 217 manifestan­tes presos e seis agentes de segurança levemente feridos, segundo as autoridade­s locais.

Foram os maiores protestos desde a segunda posse de Richard Nixon, em 1973, quando milhares tomaram as ruas para se manifestar contra a Guerra do Vietnã.

Os atos começaram pela manhã, no centro da cidade. A maioria deles transcorre­u de forma pacífica, mas um grupo de manifestan­tes vestidos de preto, que se diziam anarquista­s, quebraram vidraças de um café Starbucks, de uma lanchonete Au Bon Pain e janelas de carros. Uma limusine foi incendiada na região central de Washington.

Os manifestan­tes atiraram pedras nos policiais, que reagiram com gás de pimenta.

Um protesto do grupo DisruptJ20, que partiu de forma pacífica da Union Station, em direção à praça McPherson, próxima à Casa branca, acabou em queima de latas de lixo, arremesso de pedras e enfrentame­nto com a polícia, que deteve manifestan­tes e reagiu com gás de pimenta e bombas de efeito moral.

O movimento #DisruptJ20 (atrapalhe 20 de janeiro) foi convocado por meio de mídias sociais e se propunha a fazer “uma série de ações diretas para bloquear as cerimônias da posse”.

“Também queremos paralisar a própria cidade, usando bloqueios e protestos para parar o trânsito.”

Os manifestan­tes carregavam cartazes “Trump não é meu presidente”, “Contra o racismo”, “Imigrantes são bem-vindos”. Alguns usavam camisetas do movimento BlackLives­Matter, organizaçã­o que denuncia a violência policial contra negros.

Via-se um enorme elefante inflável (o animal é o símbolo do Partido Republican­o) com a palavra racismo estampada. No congestion­amento que se formou nas ruas vizinhas, motoristas fizeram um buzinaço em solidaried­ade. MULHERES E MACONHA Muitas mulheres que vieram para a Marcha das Mulheres, protesto contra Trump marcado para este sábado (21), usavam os “pussy hats” (chapéus de xoxota) —chapéus corde-rosa de tricô com duas pontas na parte de cima. Trata-se do resultado de uma campanha para tricotar 1,17 milhão desses adereços e usá-los na marcha. Os chapéus fazem referência ao vídeo em que Trump foi flagrado dizendo que poderia “agarrar mulheres pela xoxota” se quisesse.

Nas posses de Barack Obama, em 2009 e 2013, o número de protestos foi insignific­ante. Na de George W. Bush, em 2001, ocorreram alguns atos espalhados pela cidade, mas nenhum dano significat­ivo foi registrado.

Nesta sexta-feira (20), embora estimativa­s da quantidade de manifestan­tes não tenham sido divulgadas até a conclusão desta edição, a polícia calculava que haviam ocorrido pelo menos 60 protestos na capital.

Paralelame­nte, foi organizada uma marcha da maconha em que milhares de cigarros da erva foram distribuíd­os (leia mais ao lado). O plano era acendê-lo aos 4 minutos e 20 segundos do discurso de Trump.

Dierdre Price, 47, veio de Pittsburgh para participar do protesto durante a posse e da Marcha das Mulheres.

Ela carregava um cartaz com os dizeres: “PeeOTUS”, com gotas de urina desenhadas. O cartaz misturava POTUS (sigla para presidente dos Estados Unidos) e pee (urina), uma menção ao dossiê não comprovado que circulou por Washington, com acusações de que Trump teria se submetido a práticas sexuais não ortodoxas, como ser urinado por prostituta­s em uma visita à Rússia.

“Se eu não mantiver o bom humor, não vou conseguir permanecer sã”, disse.

O aposentado Drew Allbritton, que trabalhou no governo de Ronald Reagan (1981– 1989), carregava um cartaz com os dizeres: Government of Putin (GOP), uma brincadeir­a misturando a sigla que identifica o Partido Republican­o (Grand Old Party) e a simpatia do novo presidente por seu colega russo, Vladimir Putin. “Eu vivi a Guerra Fria, eu sei do que os russos são capazes, e sei que Trump não vai fazer nada para impedi-los.” (MARCELO NINIO E PATRÍCIA CAMPOS MELLO)

DE SÃO PAULO

Nem todas as filas em Washington (EUA) nesta sexta (20) se formaram para ver Donald Trump. Um grupo de ativistas atraiu centenas de pessoas ao distribuir cerca de 8.000 cigarros de maconha horas antes horas antes da posse do agora presidente.

O plano: acendê-los por volta de 4 minutos e 20 segundos do discurso de Trump, em um ato de desobediên­cia civil. Desde 2015, é permitida a posse de pequenas quantidade­s de maconha na capital americana. Continua proibido, no entanto, o consumo em locais públicos.

O número de baseados distribuíd­os superou as expectativ­as do grupo, chamado de DCMJ, que esperava entregar 4.200 deles.

O aumento, de acordo com os organizado­res, foi possível graças à contribuiç­ão de apoiadores, que doaram parte de seus próprios estoques.

Segundo o perfil do movimento em uma rede social, por volta de cem pessoas cumpriram a promessa e acenderam os cigarros nos arredores do National Mall, onde foi realizada a cerimônia de posse. Ainda segundo o grupo, ninguém foi preso.

Em entrevista ao jornal “The Washington Post”, Nikolas Schiller, um dos fundadores do grupo —que liderou o movimento pela legalizaçã­o da cânabis na capital dos EUA— afirmou que a intenção não era protestar contra Trump.

“A intenção é mostrar a o presidente que ele tem o poder de mudar a lei e fazer o que Obama não conseguiu”, disse, em referência à liberação da maconha em todos os 50 Estados norte-americanos.

Ativistas pró-cânabis são contra a indicação do senador Jeff Sessions (Alabama) para o cargo de secretário de Justiça. Parte deles prevê que Sessions realize uma cruzada contra a maconha.

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Juliet Linderman/Associated Press Limusine é atacada durante os protestos contra Trump organizado­s na capital dos EUA

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