Folha de S.Paulo

Pressa pode prejudicar relação entre governo e Congresso

Com agenda comum e aliados no Legislativ­o, Trump pode azedar dinâmica ao pressionar para que suas vontades sejam atendidas

- GIULIANA VALLONE

Em um ponto é possível afirmar que o novo presidente dos EUA, Donald Trump, e o Congresso norte-americano concordam: estão dispostos a desmontar o legado de Barack Obama.

Além de eleger Trump, o Partido Republican­o também detém hoje maioria na Câmara e no Senado, garantindo ao presidente apoio em sua saga contra a lei de saúde conhecida como Obamacare e outras ações do antecessor.

A agenda comum, que inclui também uma reforma do sistema tributário, é um dos pontos favoráveis na relação entre Executivo e Legislativ­o, que terá como mediador o vice-presidente, Mike Pence.

Com 12 anos de experiênci­a como deputado, é visto como um eficiente e afável comunicado­r, um contrapont­o à personalid­ade do mandatário.

Trump contará ainda com alguns aliados no Congresso, como o presidente da Câmara, Paul Ryan, com quem o presidente, entre idas e vindas, construiu uma boa relação.

Antigo rival de campanha, o senador Ted Cruz (Texas) também prometeu apoio.

Mas a personalid­ade inconstant­e do presidente e sua pressa em apresentar resulta- dos podem azedar a relação.

Os atritos já começaram. O Congresso iniciou o novo mandato, no dia 3, tentando revogar a vigência da Comissão de Ética, que apura denúncias contra parlamenta­res.

Ao perceber a manobra, Trump reclamou. “Concentrem-se na reforma tributária, no sistema público de saúde e em muitas outras coisas que são mais importante­s”, disse.

A cobrança para que o Congresso siga sua agenda deve ditar a dinâmica com o Legislativ­o nos próximos meses.

Aconteceu, por exemplo, quando o Congresso deu o primeiro passo para desmontar a reforma de saúde de Obama. Antes mesmo de assumir, Trump fez questão de dizer que a derrubada deveria ser imediata, pressionad­o seus correligio­nários.

O plano dos parlamenta­res é fazer uma análise minuciosa da reforma, o que poderia levar até três anos.

Para analistas, o novo presidente terá de melhorar seus próprios números antes de cobrar mais ação do Congresso —ele assumiu com rejeição recorde da população.

Em um cenário em que os parlamenta­res não sentem a pressão popular para apoiar as medidas do presidente, as coisas podem se complicar rapidament­e para Trump.

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