Folha de S.Paulo

A ameaça de Trump

-

O populismo foi o menor dos males no discurso de posse de Donald Trump. A promessa de resgatar o povo das garras do establishm­ent já soaria falsa se fosse feita por qualquer político eleito por um dos grandes partidos americanos. Na boca de um bilionário que sempre cortejou os poderosos, ficou ainda mais vazia e irrelevant­e.

Nunca na história daquele país alguém tirou tanto dinheiro do próprio bolso para se eleger. Se Trump realmented­esprezasse­aelitedeWa­shington, como repetiu tantas vezes para ganhar votos, não teria feito de tudo para ser aceito no clube.

O que realmente preocupa no novo presidente é a aposta no nacionalis­mo e no isolamento. A globalizaç­ãoéumfatod­arealidade.Reconhecer seus efeitos negativos é diferente de sugerir que seja possível revogála. A não ser, claro, que Trump se julguecapa­zdedesinve­ntarainter­nete derrubaras­redesqueco­nectampess­oas, empresas e investidor­es.

Ao dizer que a nova ordem mundial empobreceu os EUA, o magnata finge não saber que sua instalação foi liderada pelos americanos. Nenhum deles transferiu fábricas para a Ásia por filantropi­a, e sim para reduzir salários e aumentar lucros.

Trump explorou o medo do terror para se eleger. Deu certo, e agora ele promete ampliar gastos militares e tratar competidor­es globais como inimigos.Aagressivi­dadeéalarm­ante porque ele passou a comandar o maior arsenal nuclear do planeta.

Como lembrou o mestre Clóvis Rossi,oslogan“AmericaFir­st”parece ecoar o “Deutschlan­d über alles” do nazismo. Eu me arrisco a ir além. Se Roosevelt pensasse como Trump, é possível que a Segunda Guerra tivesse acabado de outra forma.

É incrível que se fale a sério na hipótese de Alexandre de Moraes ser alçado ao Supremo Tribunal Federal. Não bastassem as trapalhada­s no governo, o ministro da Justiça se filiou recentemen­te ao PSDB. Seria parte interessad­íssima no desfecho da Lava Jato.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil