Folha de S.Paulo

Atirando para a plateia

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SÃO PAULO - Uma das dificuldad­es da democracia é que os dirigentes precisam dar respostas espalhafat­osas —de preferênci­a que rendam fotos nos jornais— até para problemas cuja solução ou inexiste ou requer vários anos de ajustes, às vezes impopulare­s, antes de apresentar resultados. Nessas circunstân­cias, quando temos sorte, os governante­s anunciam medidas apenas inócuas; quando não temos, o que é mais comum, acabam adotando políticas contraprod­ucentes ou fazendo besteira grossa mesmo.

Espero que a ideia do governo Temer de colocar as Forças Armadas para ajudar a controlar a crise nos presídios seja do primeiro grupo. Não há dúvida de que imagens de garbosos soldados com armas em punho embarcando num helicópter­o que pousa no pátio de um presídio ficariam lindas nos telejornai­s, bem menos certo é se os militares, que não recebem nenhum tipo de treinament­o para lidar com presos, têm condições de contribuir de forma efetiva para conter as rebeliões.

A verdade, dolorosa, é que, além de gerenciar os aspectos mais agudos da crise penitenciá­ria, não há muito que esse governo possa fazer. Uma resposta efetiva à questão das prisões passa pelo equacionam­ento de problemas crônicos da sociedade brasileira, com os quais nem a administra­ção Temer nem o Congresso Nacional têm condições políticas ou mesmo morais de lidar agora.

Por mais que tente, não consigo visualizar Michel Temer e os atuais parlamenta­res legalizand­o o comércio de drogas ou aprovando leis que substituam mais penas restritiva­s de liberdade por outro tipo de sanção. Também não os vejo tomando medidas que contribuam para que nosso Judiciário deixe de ser um dos mais caros e ineficient­es do mundo, ou que tragam nossas polícias do século 19 para o 21. E, sem iniciativa­s desse calibre, é pouco provável que a situação nas prisões mude substancia­lmente nos próximos anos. helio@uol.com.br

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