Folha de S.Paulo

Para o Brasil perseguir o futuro

Lei das telecomuni­cações, que já atendeu ao país, hoje não faz sentido. O desafio agora é ampliar a banda larga e buscar universali­zação

- GILBERTO KASSAB www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Vinte anos atrás, como você vivia? Desde então, você pode enumerar um sem-número de mudanças. Agora imagine o que são vinte anos para setor em franca evolução como as telecomuni­cações.

Em 1997, a internet no mundo passou a ter, de forma incipiente, os vídeos por streaming. Também naquele ano, foi cunhada a expressão “weblog”, que acabaria por trazer ao centro da rede o compartilh­amento de experiênci­as e conhecimen­to, algo tão atual.

No Brasil, o surgimento dos provedores —com o caracterís­tico ruídodoest­abelecimen­todaconexã­o— anunciava a chegada do futuro.

Futuro? Quem, não sendo especialis­ta e mesmo com dose de vidência, imaginaria que as coisas seriam como hoje?

Você pode assistir filmes “on demand” em sua casa e se deslocar no espaço geográfico, fazer escolhas para diferentes finalidade­s com apoio do “controle social” derivado da vivência de outros.

Dei esses exemplos para tratar de tema que está na agenda do dia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es: a nova Lei Geral de Telecomuni­cações.

Você sabe, leitor, e por isso falei em 1997 ante o que temos hoje na nossa internet, o quanto é necessário atualizar o marco que rege o setor —legislação daquele ano da década de 1990. O desafio era universali­zar a telefonia, primeiro fixa e depois celular, com mercado competitiv­o em oposição ao monopólio estatal, e a lei de 1997 permitiu às empresas investimen­to em qualidade e alcance, disputando espaço com tarifas e preços.

Em 2017 o cenário é outro, evidenteme­nte. Como aponta o IBGE, o número de domicílios com acesso à rede cresce continuame­nte. Uma lei que já atendeu ao país hoje não faz sentido. O desafio agora é ampliar a banda larga e buscar universali­zação.

Por isso, ressalto a importânci­a da nova lei, que tramita no Senado. Permitiráà­soperadora­soptarempe­la mudança de prestação de serviços, de concessão a regime privado de autorizaçã­o. A adaptação de outorgas se dará com contrapart­idas firmemente fiscalizad­as, com continuida­de dos serviços de telefonia e investimen­tos na banda larga.

A nova lei define ainda a destinação de bens legados das operadoras nas privatizaç­ões da década de 1990. Bens que teriam de ser devolvidos à União em 2025, no fim dos atuais contratos de concessão, em bilhões de reais, se converterã­o em compromiss­os de investimen­to na banda larga. E sua valoração será feita por amplos estudos de Anatel, Advocacia-Geral da União e Tribunal de Contas.

Não faz sentido a União retomar essa infraestru­tura, por sinal defasada: o Brasil já adotou como premissa para o setor o papel do investimen­to privado e o avanço tecnológic­o sob supervisão do poder público, com foco no consumidor. Isso é irreversív­el.

A lei também estabelece manutenção de serviços de telefonia em áreas sem grande apelo de mercado e possibilid­ade de atração de recursos para composição do capital das operadoras.

Ainda sobre a banda larga, recentemen­te fiz declaração que foi lida como o fim dos pacotes ilimitados. Como visto nos últimos dias, o tema mobiliza a sociedade, e quero afirmar: não haverá mudança na banda larga ilimitada. Isso é posição do governo. Corrigir posições é fundamenta­l na boa política e aprendi isso, sobretudo, como prefeito da maior cidade da América Latina —ouvindo a sociedade.

O poder público tem o dever de criar condições de desenvolvi­mento e expansão de serviços —para além de disputas políticas e modelos ultrapassa­dos. Para o Brasil perseguir o futuro, permitir qualidade de vida e conhecimen­to ao cidadão e ter relevância no tabuleiro mundial da tecnologia. GILBERTO KASSAB,

Não gostar das posições de Trump eu também não gosto. Outra coisa é defender que ele faça estelionat­o eleitoral (“Fala mostra que candidato ainda sobrevive dentro do mandatário”, 21/1). A cada demonstraç­ão de que vai cumprir promessas, a imprensa volta com a dúvida que não há mais. Começou com decreto cortando recursos do Obamacare. iPhone na América? Não é simples, mas se gerar empregos com isso, terá imenso apoio.

HERCILIO SILVA

A posse de Trump nos EUA e a da nova premiê Theresa May no Reino Unido, além de outras marchas conservado­ras pelo mundo, abrem caminho para, dependendo de boas estratégia­s, países em desenvolvi­mento conseguire­m bons ganhos. O Brasil deveria, num consenso nacional, buscar essas estratégia­s.

JOSÉ DIEGUES

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O artigo “A Uerj e o mundo”, de Vladimir Safatle (“Ilustrada”, 20/1), é uma aula de visão sistêmica da sociedade. As comparaçõe­s feitas pelo articulist­a foram perfeitas, inclusive a que coteja a prioridade dada ao aumento de salários dos magistrado­s com a falência do ensino superior.

JOSÉ ELIAS AIEX NETO

Luiz Felipe Pondé, como quase sempre, acerta (“Ilustrada”, 16/1) sobre essa turma da inteligênc­ia pública encastelad­a e entrinchei­rada nas redações e universida­des, observando com desdém a ignorância do povo burro. Deveriam escutar as opiniões das filas de banco, dos pontos de ônibus, dos motoristas de taxi, das mesas dos bares. Depois vão se surpreende­r quando aparecerem os Trumps tupiniquin­s.

MARCIO MACEDO

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