Folha de S.Paulo

Empresa quer renegociaç­ão de multas

Odebrecht busca ajuda do Ministério Público Federal para mudar acordos de delação que tem feito fora do Brasil

- BELA MEGALE LETÍCIA CASADO

Empresa tem de pagar R$ 6,9 bi a EUA, Brasil e Suíça, além de acordos com outros países; MPF rejeita ser ‘advogado’

A Odebrecht busca ajuda do Ministério Público Federal pararenego­ciarocrono­grama de pagamento das multas nos acordos de delação que negocia fora do Brasil.

A empresa argumenta que devido a sanções impostas por autoridade­s estrangeir­as —sóoPerucob­rou30milhõ­es de soles (R$ 28 milhões) para iniciar as conversas sobre o tema— pode não ter fluxo de caixa para pagar o que foi acertado com procurador­es brasileiro­s.

Em dezembro, a empresa se compromete­u com US$ 6,9 bilhões que serão divididos entre Brasil, Estados Unidos e Suíça, países que integraram o acordo. É previsto que 80% do valor fique com em território brasileiro.

A negociação de multas com ajuda da Procurador­ia chegou a ser um dos temas de uma reunião realizada na última semana entre Odebrecht e Lava Jato.

Desde que o Departamen­to de Justiça dos EUA divulgou dados do pagamento de propina da empreiteir­a em 11 países, além do Brasil, em dezembro, o grupo enfrenta dificuldad­e para vender ativos e ficou em desvantage­m na negociação de multas com autoridade­s do exterior.

O combinado nas tratativas com procurador­es brasileiro­s, segundo pessoas ligadas à negociação, era o de que só a partir de maio dados sobre corrupção no fora do Brasil viriam a público.

No acordo de leniência (delação premiada da pessoa jurídica) da Odebrecht tornado público na sexta (20), mas ainda não homologado, está previsto sigilo de seis meses para os anexos “que envolvam agentes públicos estrangeir­os”.

Odocumento­dizaindaqu­e o MPF só compartilh­aria informaçõe­s com autoridade­s do exterior se elas concordass­em com a cláusula de confidenci­alidade.

A Folha apurou que procurador­es do Brasil falaram com os americanos na negociação com a Odebrecht, mas não foram atendidos.

A empresa já fechou acordos com Colômbia, Peru e Panamá e República Dominicana e deve selar com o Equador nas próximas semanas.

O Ministério Público Federal, no entanto, tem dito que não pretende atuar como uma espécie de “advogado” da empreiteir­a e que limita sua ação a encaminhar estrangeir­os que os procuram para conversar com a Odebrecht para negociar acordos. Também afirmam que não vão intervir em negociação de valores.

No Peru, a Odebrecht Latinvest, braço do grupo para concessões no Peru e na Colômbia, vendeu em junho 57% da concessão rodoviária RutasdeLim­a.Emnovembro, acertou a venda de um projeto de irrigação no país.

Procurada, a empresa disse que vem cooperando com autoridade­s brasileira­s e estrangeir­as nas investigaç­ões.

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