Folha de S.Paulo

Na juventude, futuro ministro era austero com gastos

- PAULA SPERB

FOLHA,

Com as mãos repletas de calos por causa do trabalho pesado no campo, o agricultor Severino Zavascki dizia aos sete filhos: “tenho a mão calejada para que vocês também tenham calos. Não calos pelo excesso de capina, mas calos de tanto usar caneta”.

A família morava em Faxinal dos Guedes, cidadezinh­a no oeste de Santa Catarina, e o pequeno Teori Albino Zavascki levou a lição do pai a sério: dedicou-se aos estudos por toda vida. No futuro, Teori repetiria o conselho aos seus três filhos.

Ele foi um aluno dedicado que, em busca do sonho de ser advogado, trocou a vida no interior para morar na capital do Estado vizinho. Em 1966, Teori mudou-se para Porto Alegre, aos 18 anos, para prestar vestibular para o curso de direito na UFRGS (Universida­de Federal do Rio Grande do Sul).

O apartament­o que dividia com algumas irmãs, que também se mudaram para estudar, ficava no tradiciona­l bairro Bom Fim, perto do Parque Farroupilh­a, e próximo do campus central da universida­de, onde se formou anos mais tarde.

A proximidad­e ajudava na contenção de gastos. Assim, Teori economizav­a tempo e dinheiro para o deslocamen­to entre as aulas, a casa e o trabalho como estagiário em um escritório de advocacia no centro de Porto Alegre.

“Era tudo bem apertado”, conta, sobre as finanças do pai, o advogado Francisco Zavascki, 37. Ele conta que mesmo depois de consolidar sua carreira na capital, Teori não esbanjava dinheiro —outra lição que aprendeu com pai, que morreu antes de ver o filho ser nomeado ministro do STF, em 2013.

Sua mãe, Pia Maria Zavascki viveu 101 anos e morreu em 2015. Quando o filho virou ministro, ela contou a uma rádio local que não sabia porque havia escolhido esse nome ao filho. “Sei lá…[risos] eu gostei do Teori, né? Gostei de Teori Albino Zavascki. Albino é o nome do meu pai”.

Por causa do comediment­o com os recursos, uma das lembranças de Francisco da sua infância é que o pai não atendia a todos desejos de consumo dos três irmãos. “Mas se fosse qualquer coisa ligada a estudo, caderno, livros, ele nem questionav­a.”

Um dia, Francisco precisava ler “Viagem ao Centro da Terra”, de Júlio Verne, para uma atividade da escola. Teori levou o filho a um dos seus sebos preferidos, no centro histórico. Caminharam entre as estantes antes que o pai lhe presenteas­se com a obra.

Teori também é lembrado com carinho por ex-alunos e colegas da faculdade de direito da UFRGS, onde cursou mestrado, doutorado e foi professor. Mesmo depois de deixar a docência, ele ministrava palestras e avaliava teses e dissertaçõ­es dos alunos de pós-graduação.

“Ele era um professor compenetra­do. Ao mesmo tempo sério e simpático. Os alunos o adoravam. Eram aulas intensas e profundas”, lembra o ex-aluno e hoje diretor da faculdade, Danilo Knijnik, 45.

O filho também ressalta essa dualidade e conta que o pai era calado, mas um “piadista”. Uma de suas alegrias era a convivênci­a com os cinco netos.

Quando deixava a rotina do STF para passar alguns dias em Porto Alegre, encontrava seus amigos da “confraria” para comer churrasco e fumar charuto. “Ele só fumava charuto quando estava feliz”, conta o filho.

O local de encontro da confraria era a churrascar­ia Barbanegra, onde pedia entrecot grelhado ou “prime rib”.

 ?? Arquivo Pessoal ??
Arquivo Pessoal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil