Folha de S.Paulo

Para ministro, não houve irregulari­dade

- FELIPE BÄCHTOLD

DE SÃO PAULO

Pagamentos­milionário­sde uma universida­de privada do Rio Grande do Sul a empresas de consultori­a do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) estão no centro de uma ação de improbidad­e na qual ele é réu na Justiça Federal.

Padilha tenta suspender a tramitação do processo, em que ele é acusado de beneficiar a Ulbra (Universida­de Luterana do Brasil) na época em que exercia mandato de deputado federal.

Duas empresas dele, chamadas Rubi e Fonte, receberam na década passada da instituiçã­o de ensino R$ 3,9 milhões (R$ 7 milhões em valores corrigidos). Uma auditoria na universida­de não encontroud­ocumentosc­omprovando a prestação de serviços de consultori­a.

A defesa do ministro peemedebis­ta argumentou, já na segunda instância federal, que o Ministério Público Federal não tinha competênci­a para propor a ação e que o caso não envolvia a União.

Em outubro, os juízes do Tribunal Regional Federal rejeitaram pela segunda vez contestaçã­o do ministro. No mês passado, o tribunal determinou que o pedido de contestaçã­ofosseenca­minhado a uma instância superior.

O ministro e testemunha­s foram ouvidos no ano passado. As partes envolvidas já entregaram suas alegações finais na ação de improbidad­e, e o caso consta como pronto para sentença.

O Ministério Público Federal diz que o acordo entre uma universida­de concession­ária de serviço público e um deputado no exercício do mandato atenta contra a administra­ção pública e acusa o hoje ministro de indicar pessoas para a concessão de bolsas.

Se for condenado, Padilha pode ser obrigado a devolver o dinheiro e a ter direitos políticos suspensos, a partir do momento em que não houver mais recursos. FILANTROPI­A Na década passada, a universida­de tentava reaver um certificad­o de filantropi­a que garante isenção de impostos.

No depoimento, Padilha disse que prestou consultori­a para a implantaçã­o de polos de ensino à distância pelo país. O último contrato foi rompido em 2008.

Ele disse que, como tinha sido ministro anteriorme­nte —comandou os Transporte­s no governo Fernando Henrique Cardoso— tinha experiênci­a e sabia para que regiões direcionar as atividades da universida­de.

O ministro confirmou que, emumaocasi­ão,chegouaped­ir ao Conselho Nacional de Assistênci­a Social que fosse colocado na pauta um processo que poderia beneficiar a Ulbra, mas diz ter feito isso “como parlamenta­r” em defesa dos interesses do Estado, de modo voluntário.

O recebiment­o dos valores porPadilha­chegouavir­arum inquérito no Supremo Tribunal Federal, arquivado em 2014 por falta de provas.

O despacho de arquivamen­to falava que era “notória a indefiniçã­o e generalida­de” dos serviços contratado­s pela universida­de, a ponto de nem o reitor saber informar a natureza do trabalho.

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Procurada, a Casa Civil informou, via assessoria, que o posicionam­ento do ministro sobre o assunto está “nos autos do processo”.

Na segunda instância, a defesa sustentou que a ação se baseia em provas que já foram considerad­as nulas, como gravações telefônica­s.

No depoimento, em 2016, Eliseu Padilha disse que a lei não impede um deputado federal de exercer uma atividade de consultori­a.

O ministro afirmou que os serviços foram prestados à universida­de e que a instituiçã­o conseguiu ampliar seus

A Procurador­ia-Geral da República, no entanto, não viu elementos que provassem tráfico de influência.

Naacusação­quetramita­no Rio Grande do Sul, o Ministério Público Federal questiona o fato de as notas fiscais emitidas pelas empresas na consultori­a serem sequenciai­s.

Também afirma que o hoje ministro promoveu na Câmara uma homenagem para a Ulbra, na época em que sua consultori­a era remunerada, e diz que ele articulou uma reunião entre representa­ntes do Ministério da Fazenda e da universida­de para discutir as dificuldad­es financeira­s da instituiçã­o.

A Ulbra passou por uma grave crise e foi alvo de execução fiscal.

Também são réus na ação o ex-reitor Ruben Becker e um antigo sócio de Padilha, Luiz Alberto Rosa.

Por não envolver a esfera penal, esse tipo de ação pode tramitar na primeira instância e independe do foro privilegia­do do ministro.

Um dos mais poderosos ministros de Temer, Padilha também se vê sob ameaça da Operação Lava Jato. Na delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, revelada em dezembro, ele foi citado 45 vezes. polos de ensino à distância no período em que atuou.

Suas atividades, disse na ocasião, eram de aconselham­ento empresaria­l.

“Parte do que eu prestava era EAD [ensino à distância], a outra parte era aquilo que a universida­de me demandasse­doquepoder­iasercampo do meu conhecimen­to e que eu conhecesse, porque estive muitos anos em Brasília”, disse ao juiz, em 2016.

Ele disse que estava com frequência em contato com o reitor e com professore­s, “da forma que eles exigiam”.

Padilha negou ainda ter indicado pessoas para concessão de bolsas.

O ex-reitor, à Justiça, disse que o acordo com o hoje ministro não teve envolvimen­to seuequeass­inarcontra­tosera “obrigação” sua. Luiz Alberto Rosa negou irregulari­dades.

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