Folha de S.Paulo

A Lava Jato de Teori

- JANIO DE FREITAS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

AS MORTES, as incógnitas da Lava Jato, a alteração perigosa na formação do Supremo —tudo isso em um só desastre, e a esta fase do Brasil ainda pareceu pouco. Com motivo justificad­o pelo próprio acúmulo do desastre, o pasmo foi depressa sucedido por suspeitas, apesar da ausência de indício imediato. Hoje em dia, suspeitas são o mais típico sentimento dos brasileiro­s.

As suspeições que se tornaram públicas foram acompanhad­as de um curioso pormenor: com poucas exceções, foi evitada a palavra definidora do suposto —atentado. Os pedidos de investigaç­ão criteriosa, especial, meticulosa, indispensá­vel, e por aí, jorraram com rapidez, entre o exótico pudor vocabular e o impulso dado pelas circunstân­cias.

Teori Zavascki era, sim, passível de sofrer um atentado. Embora o Brasil não tenha tradição em atentados políticos fora dos períodos ditatoriai­s, como a têm os Estados Unidos e alguns países latino-americanos. Havia o risco e a consciênci­a dele: além do seu recolhimen­to natural, o relator da Lava Jato contava com proteção pessoal constante.

As possibilid­ades de atentado no avião seriam remotas e propensas a outras causas, como sugerem as condições do desastre sob chuva forte, visibilida­de reduzida, sem copiloto, últimos dois quilômetro­s de voo. Ainda assim, só uma perícia competente dará a resposta.

Mas o acréscimo aos males do desastre não espera por ela. Aqui e fora. Lá, Rodrigo Janot e Henrique Meirelles, submetidos ao frio suíço, esquentara­m suas declaraçõe­s com dados interessan­tes.

O primeiro não só negou que a Lava Jato afaste investidor­es, como sustentou que “é justamente o contrário. Atrai investidor­es porque gera segurança jurídica”.

Entre os possíveis méritos da Lava Jato não há contribuiç­ão alguma para a segurança jurídica. Os “investidor­es” só vêm buscar o lucro fácil dos juros nas alturas e as pechinchas nas “liquidaçõe­s” de empresas, de jazidas de petróleo e de partes da Petrobras.

Ao inverso do que Janot propaga, o escândalo que associou Lava Jato e imprensa/TV fez do Brasil, ao olhar do mundo, o país da bandalheir­a. A mudança do tratamento ao Brasil é drástica, o que se pode confirmar a cada dia tanto na imprensa estrangeir­a como na internet.

Agora, com um acréscimo arrasador: a presunção de assassinat­o com atentado político. Como meio de atrasar ou desviar processos da Lava Jato, a mesma que, segundo Janot, “traz segurança jurídica”.

Henrique Meirelles, por sua vez, disse lá que o cresciment­o econômico estará de volta já ao fim do primeiro trimestre, fim de março. O problema da segurança jurídica, vê-se, começa pela que falta às afirmações das chamadas autoridade­s brasileira­s. Lá e cá.

Entre as louvações à memória de Teori Zavascki, a de Sergio Moro teve a relevância de atribuir ao ministro a existência da Lava Jato.

Mas a que existe não é, por certo, a Lava Jato desejada por Teori Zavascki. Foram muitas as suas críticas aos “vazamentos” dirigidos.

Não escondeu suas irritações com vários procedimen­tos de Moro, sobretudo com a gravação e divulgação de conversa da então presidente Dilma com Lula, que o ministro trancou sob sigilo de justiça.

Na véspera do recesso judicial, Teori Zavascki fez a exceção de uma breve entrevista: criticou a Lava Jato, aborrecido com o “vazamento” de delações da Odebrecht.

Para dar sentido ao que disse, Sergio Moro precisaria corrigir o criticado por Teori Zavascki.

Seria então a Lava Jato de quem, disse Moro, a fez existir. Mas talvez não fosse mais a Lava Jato de Sergio Moro.

A que existe não é a Lava Jato desejada por Teori. Foram muitas suas críticas aos vazamentos dirigidos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil