Folha de S.Paulo

Estados excluem investimen­tos de limite

Governador­es também tentam preservar despesas com saúde e educação, e até gastos com aposentado­rias e pensões

- ESTELITA HASS CARAZZAI JOÃO PEDRO PITOMBO

Objetivo é equilibrar contas e conseguir aval da União para tomar empréstimo­s depois que a crise passar

Num esforço para conter o cresciment­o de suas despesas em meio à recessão econômica e a cortes orçamentár­ios, Estados começaram a adotar mecanismos semelhante­s ao teto de gastos criado pelo presidente Michel Temer para pôr em ordem as finanças do governo federal.

Piauí e Ceará já aprovaram a criação de versões adaptadas do mecanismo, que valerá por dez anos —metade do prazo de validade do teto do governo federal— e excluirá do limite investimen­tos e gastos com saúde e educação.

O teto proposto pelo governo de Goiás deve ir a votação na Assembleia Legislativ­a do Estado no próximo mês. Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso e Paraíba devem encaminhar em breve projetos semelhante­s.

O argumento apresentad­o pelos governador­es em geral é o mesmo: para enfrentar a crise econômica, precisam trabalhar com orçamentos realistas e adotar medidas de austeridad­e na área fiscal.

“Já cortamos o mato alto. Agora, é a vez de um ajuste mais fino”, diz o secretário de Planejamen­to do Espírito Santo, Regis Mattos Teixeira.

Além do teto, o Ceará aumentou a contribuiç­ão previdenci­ária dos servidores e fez um corte de 10% nos incentivos fiscais das empresas. O secretário da Fazenda, Mauro Benevides Filho, diz que o objetivo foi mostrar austeridad­e para obter aval da União para novos empréstimo­s.

No Piauí, que é governado pelo PT, o teto de gastos foi inspirado pelo mecanismo do governo federal, segundo Emílio Júnior, o superinten­dente do Tesouro Estadual.

“É um olhar para o futuro. É a consolidaç­ão definitiva do ajuste fiscal”, afirma o secretário de Planejamen­to de Goiás, Joaquim Mesquita.

Na esfera federal, com o teto os gastos não poderão crescer mais do que a inflação nos próximos anos. Nos Estados, os tetos são mais flexíveis. Além de excluir despesas, alguns permitem que os gastos cresçam mais se as receitas subirem acima da inflação.

No Ceará e no Piauí, as despesas poderão crescer de acordo com a inflação ou o equivalent­e a 90% do cresciment­o da receita, sempre escolhendo a opção em que o índice de correção for maior. Em outros Estados, vale o desempenho da arrecadaçã­o.

No Ceará, em Goiás e no EspíritoSa­nto,recursosde­stinados a investimen­tos são preservado­s e podem ir além do teto. “Não faz sentido garrotear os investimen­tos porque são eles que vão fazer a nossa economia voltar a crescer”, afirma Mauro Filho, do Ceará.

O Piauí deixou de fora as despesas previdenci­árias, que chegam a R$ 1,4 bilhão por ano, o equivalent­e a 18% da receita corrente líquida. FUNCIONALI­SMO O Rio Grande do Sul —que decretou estado de calamidade financeira no ano passado— aprovou um teto ainda em 2015. Ele é aplicado somente para os gastos com o funcionali­smo, que consomem 70% das receitas estaduais. A lei diz que a despesa com a folha só cresce se houver aumento de receita.

Rio e Minas, que também decretaram estado de calamidade, optaram por outras medidas. No Rio, o governo aumentou a contribuiç­ão previdenci­ária e reajustou tarifas. Em Minas, o Estado promete vender ativos, como imóveis.

Como aconteceu durante a discussão do teto federal, especialis­tas e sindicatos têm feito críticas, apontando perdas salariais para os funcionári­os públicos e o risco de queda nos investimen­tos públicos em saúde e educação.

“Já tivemos reajuste zero no ano passado e não temos perspectiv­a para este ano. Mas pior ainda será para a população em geral”, diz Flávio Remo, coordenado­r do Sindicato dos Servidores do Ceará. Variação da receita corrente líquida Em 12 meses até out.2016, ante 2015

REGIS MATTOS TEIXEIRA

secretário de Planejamen­to do Espírito Santo

Governos estaduais imitam governo federal e propõem teto para conter despesas

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