Não saímos da recessão, mas estamos chegando ao seu fim
EX-PRESIDENTE DO BC DIZ QUE PAÍS VOLTA A CRESCER NO SEGUNDO SEMESTRE E NÃO VÊ RISCO SISTÊMICO, APESAR DA TENSÃO POLÍTICA
Folha - Já existem sinais de que a economia brasileira começou a se recuperar?
Affonso Celso Pastore - Sim. Basta comparar a situação atual com a do início de 2016. Há um ano, a cotação do CDS do Brasil [papéis cujo preço expressa o risco de calote da dívida,naavaliaçãodosinvestidores] estava em 600 pontos e o dólar bateu em R$ 4,10.
A situação fiscal era muito complicada, e a inflação chegou quase a 11%. As perspectivasparaaatividadetambém erammuitoruins.Aeconomia já tinha caído 2,8% em 2015, e as estimativas do PIB [Produto Interno Bruto] para 2016 flutuavam entre -3% e -4%. Minas, cujos governos foram extremamente irresponsáveis.
Na expectativa de novas receitas, fizeram enormes aumentos no gasto com pessoal. Mas isso não ocorreu com Espírito Santo, São Pernambuco, Ceará, Goiás etc. É claro que numa recessão todos sofrem, mas não temos uma crise sistêmica nos Estados. A instabilidade política que a delação premiada da Odebrecht pode criar impediria o país de sair da recessão?
Com a taxa de juros caindo, oBrasilsaidarecessão.Quem estiver envolvido com corrupção que vá embora. Alguns ministros já saíram. Não vejo risco sistêmico. Como as incertezas provocadas pelo governo de Donald Trump podem afetar o Brasil?
Aeconomiaamericanaestá crescendo. Saiu de uma crise gravíssima e está hoje em pleno emprego. É por isso que os juros nos EUA subiram.
Não sei direito quem é Trump, mas vamos supor que ele corte impostos, faça um programa de infraestrutura e reduza o grau de regulação da economia.
Sefizerisso,aeconomiavai crescer um pouco mais, atraindocapital,eodólarsobeum pouco. Mas não há muitas apostas em uma grande valorização do dólar.