Voz de ‘Vaga Carne’ ecoa crise da representação
FOLHA
A crise da representação não é apenas política; é do sujeito, e o teatro já opera a partir dela há tempos. O solo “Vaga Carne” permite essa analogia quando suscita no espectador a busca por sentidos onde, a priori, não os há.
Daí o inusitado da deriva sobre o “nada absoluto” e regida por uma voz inquieta e ferina que ambiciona penetrar tudo que “vê”, da pele ao objeto, dessacralizando o corpo e o espaço. Nem personagem, nem narradora, manifesta-se sob diferentes formas e provocações, ora metafísicas, ora existenciais.
Na ousada proposição não dramática, a atriz e dramaturga Grace Passô consegue pactuar uma brincadeira bem urdidaparasubverternoçõesde autoria, implodir significados e significantes até que essa voz diga a que veio e se vá.
Acompanhamos desilusões e percepções de mundo como quando a voz-corpo senta-se numa cadeira vaga na plateia, saracoteia em seu casaquinho de lantejoulas ou vocifera uma palavra assoprada pelo público (naquela noite, “golpe”, repetindo-a).
Só é possível embarcar na experiência porque Passô é espirituosa na performance de ser, não ser e desaparecer. Presença solar já no breu da abertura, quando a “protagonista”, oculta, sussurra a chegada e não demora a “ocupar” as paredes da cabeça da