Folha de S.Paulo

O engenheiro de vendas Luis Zerba, 35, da Salesforce,

- ANNA RANGEL

DE SÃO PAULO

A disputa pela sobrevivên­cia no mundo corporativ­o acirra a competição entre colegas e pode acabar em politicage­m, quando há troca de favores e uso da relação interpesso­al para conseguir ascensão dentro da empresa.

O resultado é um ambiente de conflito e desarmonia, um pesadelo para gestores.

É impossível cortar a política do trabalho, mas há formas de lidar com ela e usá-la para o bem, de acordo com a doutora em comunicaçã­o e professora emérita da USC (Universida­de do Sul da Califórnia) Kathleen Reardon.

“Adotar uma postura política no trabalho faz parte. Mas ela deve estar baseada em criar conexões com os colegas, mostrando-se disponível e sendo honesto”, afirma Reardon, autora do livro “The Secret Handshake” (“O Aperto de Mão Secreto”, sem tradução para o português; 272 págs., R$ 51,75 na Amazon).

Para Reardon, pequenas atitudes ajudam a trazer boa visibilida­de para o profission­al (veja ao lado), entre elas oferecer ajuda sempre que possível, criando um “banco de favores”, fazer elogios sinceros, dar crédito ao trabalho alheio e buscar mentores que possamdard­icasparame­lhorar o trabalho. COLEGUISMO percebeu que sua timidez atrapalhav­a na hora de se mostrar um candidato viável para uma promoção, mas procurou se colocar à disposição para ajudar colegas e gestores no dia a dia. A estratégia rendeu frutos.

“As pessoas foram notando essa caracterís­tica até que me tornei conhecido por ser um profission­al solícito”, afirma. “Com a fama, veio a indicação para meu emprego atual, feita por um colega que admirava essa capacidade.”

Já os mais comunicati­vos, como a publicitár­ia Débora Malandrin, 35, da F.Biz, usam essa vantagem competitiv­a sem nem perceber.

“Sinto que essa habilidade ajuda no trabalho porque aumenta minha rede de contatos, mas não é algo calculado, com a intenção de me aproveitar ou pedir favores mais tarde”, diz.

Mas há quem opte por não participar da política corporativ­a, como a psicóloga Verônica Souza, 35, da Sodexo.

“Sou educada e solícita, mas não gosto desse tipo de coisa e já recusei propostas para trabalhar em empresas muito competitiv­as, do setor financeiro, porque via que teria que jogar esse jogo.” SEM COLABORAÇíO As organizaçõ­es cada vez mais querem evitar o profission­al que se aproxima dos que estão acima dele com a intenção de se promover, rouba créditos das ideias de colegasoup­uxaotapete­dosoutros —tudo para garantir a sonhada promoção.

O engenheiro da computação Luis Figaro, 35, da VivaReal, conta que, em experiênci­as anteriores, teve gestores que roubavam crédito de ideias dos funcionári­os.

“Eles agiam como se a equipe não tivesse ajudado para barganhar promoções ou salários mais altos.”

“O tiro sai pela culatra porque as empresas veem quem se conduz de forma desonesta e isso se reflete na avaliação”, diz a doutora em administra­ção e professora da USP (Universida­de de São Paulo) Liliana Vasconcell­os.

Para ela, as empresas já perceberam que uma “maçã podre” no escritório impacta as políticas de retenção de talentos, já que frustra os bons profission­ais que optam por não fazer politicage­m.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil