Contra nós”—, em vez de haver uma tentativa de entendê-los.
CIÊNCIA POP A cultura pop nem de perto é [tão] pró-ciência [quanto poderia ser]. A ciência deveria gozar de um status muito maior entre nós para aumentar a taxa de inovação. Na esfera privada, as pessoas deveriam valorizar mais a ciência. Não custa nada; é só acreditar que a ciência faz bem. Os jovens precisam de modelos que os inspirem. Por isso, as séries de TV são importantes. “Star Trek” fez a ciência ser cool para muita gente. O presidente Obama realmente fez um belo trabalho em ser pró-ciência, em falar de avanços científicos, convidar crianças para mostrar suas invenções na Casa Branca. É o poder do exemplo.
Historicamente, a América não tem sido constantemente pró-ciência, mas nós colocamos o primeiro homem na Lua, criamos tantas e tantas inovações entre 1870 e 1930. Temos de voltar a valorizá-la. ZONA DE CONFORTO Desde Alexis de Tocqueville, a inquietação foi um traço da cultura americana. Foi o que nos empurrou, desafiou, provocou inovações. Os americanos de hoje estão abandonando essa tradição. Queremos espaços seguros. Estamos nos empenhando para evitar mudanças. Mudamos de casa ou de Estado menos vezes do que antes, casamos com gente muito parecida conosco, temos menos filhos, nos relacionamos com gente que pensa como nós. Os algoritmos das redes sociais escolhem nossas músicas, paqueras, o que lemos, o que compartilhamos. Tudo é previsível.
Essa cultura de conexões online tem suas vantagens, nos traz conforto. Mas há vários efeitos colaterais indesejados, como o aumento da desigualdade e da segregação, e a diminuição dos incentivos para inovar e criar. Estamos envelhecendo, ficando parecidos com a Europa Ocidental ou com as elites do Sul e do Sudeste do Brasil. Isso é preocupante. VOLTA DA RELIGIÃO A vitória de Trump lançou luz sobre o atraso econômico no Meio-Oeste e na Appalachia, regiões que ajudaram a elegê-lo no Colégio Eleitoral. Há duas perguntas que se confundem: “como ajudamos essas áreas do país?” e “como podemos fazer com que votem de modo diferente?”. Mas a Louisiana e o Mississippi, dois dos Estados mais pobres, não chamam atenção, pois sempre votaram nos republicanos. No fim das contas, essas regiões não são tão mais pobres que as demais, tendo entre 12% e 15% da população na pobreza. Os eleitores de menor renda, dos imigrantes aos negros, votaram em Hillary. Os pobres não conseguiriam eleger Trump.
O verdadeiro mal-estar é sobretudo cultural, ligado a estilos de vida medíocres, “sem futuro”, que contrastam com as expectativas anteriores. Incluam-se aí o abuso de álcool e drogas e a política disfuncional da identidade branca no país.
Não há uma solução de cima para baixo para curar essa sensação, mas certamente torço por um novo florescimento de religiões mais restritivas, que proíbam o uso de drogas, no interior do país. Sem abuso de substâncias e com taxas menores de divórcio, os problemas socioeconômicos dessas regiões seriam menos severos. Em Utah, onde há muitos mórmons, essas questões são menores, e a classe média é mais saudável.
Pessoalmente, não sou religioso, mas vejo como uma vantagem. Entretanto, as classes intelectuais americanas, majoritariamente seculares, dificilmente defenderiam a volta da religião. Primeiro, porque não apoiam a preferência política dos mais religiosos, que tendem a votar mais nos republicanos do que nos democratas. Em segundo lugar, direcionar o foco para a religião poderia tirar a atenção das respostas favoritas dos nossos progressistas a problemas sociais e econômicos: redistribuição de renda e investimentos em infraestrutura. Iowa e Ohio precisam de mais infraestrutura do que já possuem, é sério?
Intelectuais e a mídia poderiam contribuir para passar uma imagem um pouco mais positiva da religião. Vejo muita gente boa promovendo uma retórica de empatia, mas com muita condescendência nos assuntos importantes. Não há vontade, em nenhum dos lados do debate, de ouvir visões diferentes sobre raça, imigração ou aborto. ENTENDER A TECNOLOGIA A humanidade precisa saber entender melhor a tecnologia. As pessoas não compreendiam de fato o que significava Hillary ter um servidor privado para seus e-mails. Os e-mails roubados de seu chefe de campanha, John Podesta, e divulgados pelo WikiLeaks mostram que até gente muito bem informada não sabe o que se pode ou não escrever em um e-mail. Os processos contra a Trump University mostram que os alunos não sabiam o que esperar de uma universidade digital. A internet, com sua garantia de anonimato, contribuiu para o crescimento do movimento racista alt-right [direita alternativa].
A vitória de Trump aponta para um perigoso desequilíbrio entre popularidade e capacidade. No passado, as chances eleitorais de alguém dependiam de organização e campanha. Com as redes sociais, os candidatos podem ir muito além de sua capacidade política. Mas até meus amigos já perderam os bons modos, olhando para a tela o tempo inteiro em reuniões sociais. Não sabemos regular nem a nossa vida. É analfabetismo. EDUCAÇÃO FINANCEIRA Tenho um blog sobre economia há 15 anos, em que posto textos diariamente, o Marginal Revolution. Sempre quis ampliar o debate econômico para os temas do mundo real, e é preciso que mais gente entenda, pelo menos, os princípios básicos. No Mercatus Center, que dirijo, na Universidade George Mason [em um subúrbio de Washington, no Estado da Virginia], entrevisto diversos intelectuais para falar de cultura e economia, de Jeffrey Sachs a Peter Thiel, de Steven Pinker a Camille Paglia.
Criei com outros amigos economistas, em 2012, a Marginal Revolution University. O objetivo é oferecer diversos cursos de economia online, tratando dos princípios da micro e da macroeconomias e cobrindo desde o mercado de trabalho até a economia chinesa, de impostos a subsídios. Para leigos e para professores.
Gosto de explicar como a economia afeta o seu dia a dia, e como você pode usar conceitos econômicos para tomar decisões. Tudo gratuito, com legendas, e tentando expandir para o máximo possível de idiomas. Não quero ganhar dinheiro com isso. Sinto que é minha missão de vida.