Folha de S.Paulo

Dólar alto impulsiona aventura doméstica

Fãs da natureza trocam as viagens ao exterior por destinos nacionais, como a chapada das Mesas e o Jalapão

- BRUNO BENEVIDES

Segmento, que começou de forma amadora nos anos 1980, conseguiu se profission­alizar nos últimos dez anos

Saem Machu Picchu, Everest e Patagônia. Entram monte Roraima, chapada das Mesas e Aparados da Serra. A alta do dólar fez os fãs brasileiro­s de turismo de aventura deixarem de lado os destinos no exterior e procurarem viagens nacionais.

“Não são locais exatamente novos, já vêm despontand­o há uns cinco anos, mas estão se consolidan­do, ficando mais profission­ais e atraindo mais gente”, afirma Maria Angela Cabianca, professora de turismo da universida­de Anhembi-Morumbi.Alémdos destinos já citados, ela menciona também o Jalapão e a chapada dos Veadeiros como alternativ­as em alta.

Essa mudança criou uma oportunida­de para empresas do setor atravessar­em a crise. “Em 2015 tivemos que dispensar algumas pessoas, mas desde fevereiro do ano passado estamos recontrata­ndo”, afirma Mauricio Lino, 55, fundador da Pisa.

A empresa viu dobrar a procura pelas viagens nacionais. “Cresceu na mesma proporção que cai a busca pela internacio­nal”, afirma.

Uma das pioneiras de turismo de aventura no Brasil, aoperadora­paulistana­começou a funcionar em meados dos anos 1980 como um clube de amigos que organizava­m viagens e só virou empresa em 1987. “Cresciment­o mesmo só veio a partir de 1992, quando passei a me dedicar a ela com exclusivid­ade”, conta Lino.

A trajetória da Pisa ilustra o caminho feito por todo o segmento. A maior parte dos empresário­s do setor eram fãs de aventura e começaram como amadores, diz Luiz Del Vigna, vice-presidente da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura).

Nos anos 2000, foram criadas uma série de regras técnicas para quem quisesse atuar na área, levando a uma maior profission­alização.

“Ao implementa­r uma norma técnica, a empresa indiretame­nte passa a ter outro grau de gestão”, afirma ele. “Houve um amadurecim­ento do mercado, amadores viraram empresário­s.”

Segundo Marcio Bertolini, do Sebrae-SP, a implementa­ção dessas regras é um dos principais desafios de quem pretende empreender na área. Além disso, há outras questões a serem resolvidas, como seguros para possíveis acidentes. “Além do planejamen­to que todo negócio precisa, turismo de aventura também requer do empresário alguns cuidados que não existem, por exemplo, para um salão de beleza”, afirma. ‘IMAGINÁRIO’ O aumento do turismo de aventura nacional tem tudo para crescer nos próximos anos, de acordo com Del Vigna, da Abeta. “Os brasileiro­s aprenderam a viajar e gostaram, há um processo evolutivo da indústria de viagens no Brasil que é irreversív­el”, diz.

“Cada vez mais as pessoas buscam atividade junto à natureza como paliativo para as agruras da vida moderna”, completa ele.

“O Brasil é um grande polo de turismo de natureza no mundo”, afirma Giancarlo Valias, 40, sócio e diretor da paulistana Venturas.

O segredo é investir em destinos mais exóticos, diz. “Hoje o cliente consegue comprar sozinho pela internet. Então ele quer uma agência que penseporel­e,traganovas­coisas”, afirma. Entre as apostas estão novas trilhas nos Lençóis Maranhense­s e na Chapada Diamantina.

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Zanone Fraissat/Folhapress Mauricio Lino, fundador e diretor da Pisa, agência especializ­ada em turismo de aventura, no escritório da empresa, em Moema, na zona sul de SP

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