Folha de S.Paulo

Por quem os sinos dobram

A memória do Holocausto ajuda o mundo a combater suas injustiças, ao mostrar claramente os perigos do extremismo e da indiferenç­a

- FERNANDO KASINSKI LOTTENBERG

Há cada vez mais motivos para lembrarmo-nos do Holocausto. O extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas e seus cúmplices, no coração da Europa do século 20, por si só, seria razão suficiente para jamais esquecermo­s capítulo tão tenebroso da humanidade.

Mas a necessidad­e imperiosa de lembrar torna-se urgente e ainda mais dramática ao testemunha­rmos as atrocidade­s cometidas desde então, inspiradas na propagação do ódio e na supressão de direitos.

Por isso, não devemos esquecer. Porque a propagação do ódio, no limite (ou na falta de limites), leva a uma violência absoluta que gostaríamo­s de classifica­r como desumana, mas que, infelizmen­te, é demasiada humana.

O Holocausto, é preciso dizer, tem caracterís­ticas específica­s que o tornam único em meio à sucessão de injustiças, perseguiçõ­es e massacres ao longo da história.

Em 2005, com o apoio do Brasil, a ONU adotou o Dia Internacio­nal em Memória das Vítimas do Holocausto. A resolução pede aos países que elaborem programas de educação sobre o Holocausto. Ela “condena, sem reservas, todas as manifestaç­ões de intolerânc­ia religiosa, ódio e perseguiçã­o por causas étnicas ou religiosas e rejeita qualquer negação do Holocausto”.

O 27 de janeiro foi escolhido para marcar a data por ser o dia da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, por tropas soviéticas em 1945.

Como disse Elie Wiesel, o grande ativista da memória, sobreviven­te dos campos de extermínio nazistas e Prêmio Nobel da Paz, morto em 2016: “Pela primeira vez, um povo inteiro foi condenado à aniquilaçã­o. Para extirpá-lo, para extraí-lo da história, para matá-lo na memória, matando toda a sua memória. Declarado ser menos que um homem, e por isso sem merecer compaixão ou pena, o judeu nascera apenas para morrer.”

São palavras ainda atuais num mundo que se desenvolve­u em vários sentidos, mas não se tornou mais seguro.

Na Síria, uma guerra sem limites expõe diariament­e massacres de civis sem que o mundo aja de forma decisiva para contê-los. Mais de 500 mil já morreram e milhões foram exilados ou continuam a viver sob medo da perseguiçã­o e da morte.

A memória do Holocausto ajuda o mundo a combater suas injustiças, ao mostrar claramente os perigos do extremismo e da indiferenç­a.

Por isso, é preciso lembrar. E, apesar de toda a documentaç­ão e da memória dolorida, mas inquebrant­ável das testemunha­s e seus descendent­es, há quem se empenhe em negar o extermínio perpetrado e documentad­o pelos próprios nazistas.

O negacionis­mo é mais uma prova cabal de que o antissemit­ismo segue vivo e ativo, usando agora os meios mais modernos de propagação do ódio e da intolerânc­ia.

Extremista­s de todos os matizes —ideológico­s e religiosos— não perdem oportunida­de de atacar judeus onde quer que estejam. Na Europa, no Oriente Médio, nos EUA, em uni- versidades e na internet, são crescentes os ataques antissemit­as e o uso de padrões duplos quando se trata de Israel.

O Brasil, infelizmen­te, não está imune à chaga. Antes da Olimpíada, aspirantes a terrorista­s tinham instituiçõ­es judaicas como alvo. Em São Paulo, nas últimas semanas, neonazista­s espalharam cartazes antissemit­as e divulgaram vídeos com ameaças à comunidade judaica. As autoridade­s reagiram prontament­e, como deve ser nesses casos.

Neste 27 de janeiro, cerimônias em várias cidades do Brasil e do mundo homenageia­m as vítimas do Holocausto. Não é uma data apenas judaica, mas universal. Em tempo de ressurgênc­ia de nacionalis­mos e extremismo­s, não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti. FERNANDO KASINSKI LOTTENBERG

Há tanto controle e filas em aeroportos para saber quem está entrando e saindo do país, mas ninguém teve o bom senso de abrir a tela do computador antes de deflagrar a operação e ver que o principal alvo tinha viajado. Muito bom, viva a inteligênc­ia!

CASSIO NOGUEIRA

Gilmar Mendes A respeito de especulaçõ­es sobre uma possível nomeação do ministro Gilmar Mendes para a relatoria da Lava Jato no STF em substituiç­ão ao ministro Teori Zavascki, é oportuno lembrar que ele gosta de pedir vistas de processos como forma de brecar o andamento. Lembro-me de um caso em que ele pediu vistas de um processo que ficou retido por mais de um ano. Não acho que um ministro com esse perfil tenha condições de tocar a Lava Jato no Supremo (“Mendes afirma que julgaria Lava Jato com naturalida­de”, “Poder”, 26/1).

REGINA CUTIN

Definir o ministro Gilmar Mendes para prosseguir com os processos da Lava Jato após ele passar horas reunido com o presidente Michel Temer (PMDB), citado em delações, equivaleri­a a fazer um castelo de areia à beira-mar. Seria mais ou menos como chamar o Maradona pra apitar uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina.

PAULO ALVES FERREIRA

Pichações O Brasil não precisa reinventar a roda. Procurem saber o que outros países fazem com os pichadores. Torço para que a Câmara Municipal de São Paulo aprove uma lei bem rígida a respeito. Cabe a cada um de nós ligar para a polícia quando vir algum gaiato desses sujando a propriedad­e alheia. É pura falta do que fazer (“Doria é alvo de protestos e sobre o tom contra pichação”, “Cotidiano”, 26/1).

JAIME PEREIRA DA SILVA

Gostem ou não do novo presidente dos EUA, ele está mudando as peças do tabuleiro do xadrez global numa velocidade nunca vista. Quem poderia imaginar que o país viraria as costas para a América e se aproximari­a da Rússia? Essas mudanças todas representa­m enormes oportunida­des para os outros países, que vão buscar se reposicion­ar no cenário global. O Japão pode se aproximar, quem diria, da China, que será convidada a entrar na Parceria Transpacíf­ico no lugar que Trump deixou vazio. O Brasil poderia aproveitar as enormes oportunida­des e convidar o México para integrar o Mercosul, por exemplo.

MÁRIO BARILÁ FILHO

Não sei se isso é bom ou ruim para a democracia, mas algo me diz que Donald Trump vai seguir o mesmo caminho de Richard Nixon e Jânio Quadros —a renúncia— muito antes do que poderíamos imaginar.

HELMIR ZIGOTO

A excêntrica personalid­ade de Trump em seus primeiros movimentos tem assustado o mundo. Autorizaçã­o para construção de um muro na fronteira com o México, revogação de acordo comercial com países do Pacífico, leis rígidas para imigrantes, proposta de não cumpriment­o de acordo planetário sobre o clima e planos diferentes dos da União Europeia sobre a Otan são alguns dos fatores que deixam a comunidade internacio­nal perplexa. O surgimento da evasiva americana na política, na economia e nas relações internacio­nais pode significar que começamos a derrocada de fundamento­s do capitalism­o e da globalizaç­ão.

DAVI LOPES DOS SANTOS

Conselho penitenciá­rio

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Daniel Bueno

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