Folha de S.Paulo

Bem empresaria­l, mal coletivo

Parte significat­iva do material contaminan­te coletado apenas passeia pelos canos da Sabesp sem chegar a estação de tratamento

- JOÃO PAULO CAPOBIANCO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Duas importante­s iniciativa­s da Folha, uma reportagem (“Esgoto irregular vai de mansão no Morumbi à sede da Portuguesa”, 28/12) e um editorial (“Prazo esgotado”, 5/1), comentados por Jerson Kelman, presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), em artigo nesta seção (“Bem individual, mal coletivo”, 12/1), deram destaque a questão importante que passa despercebi­da para a maioria dos paulistano­s: a situação da coleta e tratamento do esgoto na maior e mais rica cidade brasileira.

Os textos trataram da situação de proprietár­ios de imóveis que se recusam a providenci­ar a ligação à rede coletora de esgoto existente nos locais em que estão instalados.

Corretamen­te considerad­a uma posição absurda, esses indivíduos contribuem para a poluição e contaminaç­ão em vários pontos da cidade, criando um problema de saúde pública para todos que vivem ao redor. Independen­temente de qualquer justificat­iva que possa ser apresentad­a, essa é uma situação inaceitáve­l que não poderia continuar a ocorrer impunement­e.

A oportunida­de de tratar de assunto tão relevante, no entanto, merece uma análise um pouco mais aprofundad­a. Da forma como foi abordado no artigo do presidente da Sabesp, o leitor pode ser levado a acreditar que a simples ligação dessas propriedad­es ao sistema de coleta seria suficiente para resolver o problema da poluição por esgoto e, por consequênc­ia, do risco à saúde pública na metrópole.

Infelizmen­te, por mais que esses cidadãos estejam agindo de forma condenável e mereçam punição, eles estão longe de ser os maiores culpados pelo problema da contaminaç­ão por esgoto em São Paulo.

Isso porque a grande maioria dos paulistano­s fez a lição de casa e conectou seus imóveis à rede, mas parte significat­iva do material contaminan­te coletado apenas passeia pelos canos da Sabesp sem chegar a qualquer estação de tratamento, como seria esperado.

Dessa forma, a empresa que é paga para coletar e tratar o esgoto despeja diariament­e mais de 450 milhões de litros desses resíduos sem qualquer cuidado no sistema hídrico da cidade, conforme atestam os dados de 2014 do Diagnóstic­o dos Serviços de Água e Esgotos, disponibil­izado pelo Sistema Nacional de Informaçõe­s sobre Saneamento do Ministério das Cidades.

Comparados com outras cidades do país que apresentam condições econômicas inferiores, os números de São Paulo são decepciona­ntes.

No ranking do saneamento das cem maiores cidades brasileira­s, organizado pelo Instituto Trata Brasil, a capital paulista está na 43ª posição quando se considera a quantidade de esgoto tratado por água consumida, estando atrás de várias capitais, como Salvador, que trata 96,15%, ou Curitiba, com 89,71%, apenas para citar algumas. O mesmo se repete na perda na distribuiç­ão e no esforço para universali­zar o acesso à água e coleta de esgoto.

O argumento apresentad­o pelo presidente da Sabesp de que a solução seria a fusão da tarifa de água e esgoto em única tarifa de saneamento não parece convencer, pois a empresa já é de longe a maior arrecadado­ra do país entre todas que atuam do setor e, mesmo assim, parece não sobrar recursos para fazer o que deveria: promover o “bem coletivo”. JOÃO PAULO CAPOBIANCO,

Poderia ser criada uma área para a produção desses grafites, que são bonitos e interessan­tes, realmente, só não podem ser pintados aleatoriam­ente em qualquer fachada, seja pública ou privada. Não devemos ter vergonha de copiar soluções já consagrada­s em outros países, como, por exemplo, Wynwood Walls, em Miami, que é um parque de paredes grafitadas.

FABIO KNOPLOCH

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No país das indicações políticas, naturalmen­te os ministros não tomam as melhores e adequadas decisões e, muitas vezes, desafiam o saber dos especialis­tas da área. Porém a renúncia em bloco no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria do Ministério da Justiça não merece pesar, haja vista as dramáticas condições dos presídios reveladas nos recentes episódios. Os membros renunciant­es não devem se furtar da responsabi­lidade por essa desgraça (“Membros de conselho penitenciá­rio renunciam com críticas a ministro”, “Cotidiano”, 26/1).

ÂNGELA LUIZA S. BONACCI

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