Justiça manda prender Eike por suposto repasse a Cabral
Empresário, procurado pela Interpol, é suspeito de pagar US$ 16,5 mi no exterior
Ex-bilionário havia embarcado para Nova York; advogados dizem que ele se apresentará à Justiça ‘em breve’
O empresário Eike Batista foi alvo nesta quinta-feira (26) de mandado de prisão preventiva em um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio.
Ele é suspeito de ter repassado e ajudado a ocultar uma propina de US$ 16,5 milhões para o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). O valor foi transferido, segundo a Procuradoria, por meio de contrato fictício de intermediação de compra e venda de uma mina de ouro.
Em viagem ao exterior, Eike não havia se apresentado às autoridades até a conclusão desta edição. Ele foi considerado foragido pela Polícia Federal e incluído na difusão vermelha da Interpol.
O empresário havia embarcado na terça (24) para Nova York com um passaporte alemão —ele tem dupla nacionalidade, já que sua mãe é alemã. Advogados negam que ele tenha a intenção de fugir e afirmam que se apresentará à Justiça “em breve”.
O empresário, que chegou a ser considerado um dos mais ricos do mundo e assistiu à derrocada de seus negócios nos últimos anos, foi alvo de um dos nove mandados de prisão expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal no Rio, na deflagração da Operação Eficiência —referência ao nome de uma das contas no exterior de Cabral.
Três destes alvos já estavam presos, entre eles o exgovernador. Além de Eike, Francisco de Assis Neto, exassessor de Cabral, também não foi localizado até a conclusão desta edição.
Os procuradores não apontaram que benefícios Eike pode ter recebido a partir da propina que teria sido paga a Cabral. No Rio, ficavam a sede das empresas de Eike e alguns de seus grandes empreendimentos, como o porto do Açu, no norte fluminense.
Ele e o ex-governador eram próximos. De 2009 a 2011 o peemedebista e sua mulher, Adriana Ancelmo, usaram por 13 vezes jatinhos do empresário, conforme revelou a Folha neste mês.
Eike já havia sido citado na Operação Calicute —primeira fase da Lava Jato no Rio— por ter repassado R$ 1 milhão ao escritório de advocacia de Adriana Ancelmo.
Em depoimento espontâneo aos procuradores, o empresário disse que esse pagamento se referia a serviços prestados a um fundo de investimento com a participação da Caixa Econômica Federal, que teria indicado o escritório. O banco negou ter sugerido a operação, o que reforçou as suspeitas dos procuradores contra Eike.
Cabral foi preso na Operação Calicute, em novembro, suspeito de cobrar propina em obras públicas. Ele já é réu em duas ações penais. Sua mulher está detida desde dezembro. INVESTIGAÇÃO As investigações apontam que a quadrilha comandada pelo ex-governador acumulou US$ 100 milhões no exterior desde 2002. As informações partem de documentos e da delação premiada de dois operadores do mercado financeiro suspeitos de auxiliar o peemedebista no envio de recursos para fora.
Parte desses recursos envolve Eike. Os delatores Renato Hasson Chebar e Marcelo Hasson Chebar afirmam que foi na conta de uma empresa criada em seus nomes no Uruguai que o empresário depositou os US$ 16,5 milhões de propina.
Para dar aparência legal ao repasse, a empresa uruguaia, chamada Arcadia Associados, firmou um contrato fictício com a holding de Eike. O acordo, assinado em 2011, afirma que a companhia intermediara a compra de uma mina de ouro pelo empresário —operação que de fato ocorreu.
Segundo a investigação, a operação financeira foi elaborada pelo advogado Flávio Godinho, vice-presidente de futebol do Flamengo e ex-executivo do grupo EBX, de Eike, também preso na operação desta quinta.
Os advogados de Cabral, Ary Bergher e Raphael Mattos, também se reuniram com os investigados para debater o contrato simulado.
O juiz federal também mandou prender preventivamente Thiago Aragão (sócio de Adriana Ancelmo), Álvaro Novis (doleiro) e Sérgio de Castro Oliveira (operador do ex-governador).
A ex-mulher do peemedebista Susana Neves e o irmão dele Maurício Cabral foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento. (ITALO NOGUEIRA, LUCAS VETTORAZZO E BELA MEGALE)