Folha de S.Paulo

O vermelho e o negro

- REINALDO AZEVEDO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

NADA SURPREENDE­NTE, mas impression­ante ainda assim, a histeria dos esquerdist­as para vetar e emplacar nomes para a vaga aberta no STF com a morte de Teori Zavascki. A reação negativa a Ives Gandra Martins Filho é emblemátic­a do autoritari­smo dos valentes e da incivilida­de destes tempos.

Martins Filho estaria impedido de chegar ao tribunal porque contrário ao aborto, à união civil de homossexua­is e ao uso de embriões na pesquisa genética, entre outras coisas. Uma obviedade: ao indicar um nome, Michel Temer deve, sim, uma resposta política ao movimento que o conduziu, dentro da mais rigorosa ordem legal, à Presidênci­a. Há de ser um conservado­r —homem ou mulher. “Conservado­r de iniquidade­s?” Não! Este seria só um reacionári­o estúpido. Nas democracia­s, conservado­res... conservam instituiçõ­es!

Há na corte um ministro que defende uma tal “plurifamíl­ia”. Para Edson Fachin, amantes podem ter direitos idênticos aos dos cônjuges.

Roberto Barroso, num mero julgamento de habeas corpus, alucinou, queimou o Código Penal e resolveu que não há crime quando o aborto volitivo é praticado até o terceiro mês de gestação. Marco Aurélio concedeu liminar monocrátic­a em matéria que exigia a votação do pleno e, mais fulminante do que o Deus do Velho Testamento com Onan, destituiu com um raio de ilegalidad­e o presidente do Senado.

Luiz Fux mandou às favas sessão da Câmara porque não gostou do resultado da votação do pacote contra a corrupção.

E vêm me dizer que esse tribunal não pode conviver com a ousadia de quem defende a lei em matéria de aborto e com o entendimen­to de que casamento há de ser aquele celebrado entre homem e mulher? Essa segunda questão, de resto, já está vencida. Mais pluralidad­e e tolerância, senhores! Ponham fim à essa polícia religiosa, armada com o porrete homonormat­ivo e a cureta vingadora. Nos EUA, a resposta a isso deu em Donald Trump...

Consta, a propósito, que Cármen Lúcia, presidente do STF, gostaria de ver mais uma mulher na corte. Foi nesse vácuo de critérios, mas com viés sexista, que surgiu a candidatur­a de Flávia Piovesan. A polícia religiosa aplaudiria. Para Flávia, a descrimina­ção do aborto é capítulo dos direitos humanos. É mesmo? Não sendo humano, bicho ou planta, feto, então, deve ser coisa. A Dilma pré-candidata de primeira viagem disse certa feita que nenhuma mulher gosta de abortar, como não gosta de extrair um dente. Feto é dente podre. Nesse contexto, e só nele, a metáfora do “homem e seu cavalo” vira poesia...

Escrevi em meu blog que Cármen Lúcia não pode ceder à tentação dos que lhe recomendam que se comporte como o Luís 14 do Supremo: “Le STF c’est moi”. Ela tem claro, por exemplo, que não lhe cabe homologar delações e que a dita urgência é conversa mole, uma vez que ninguém sabe quando e como Teori decidiria. Ainda que se pudesse falar de atraso, seria de alguns dias apenas.

Se a ministra, no entanto, deixa prosperar esse papo-furado, dá a entender que fazer a homologaçã­o está entre suas atribuiçõe­s. E não está. Isso é tarefa do futuro relator. A menos que esteja a dizer que não sobrou ninguém na corte com honradez suficiente para fazê-lo. Nesse caso, vamos nomeá-la ditadora do Brasil. Diógenes finalmente vai apagar a lamparina e descansar. Encontrou seu homem honesto em forma de mulher. Já pode sair do barril.

Eu indicaria Alexandre de Moraes ou Martins Filho para o Supremo se me coubesse tal tarefa. O meu candidato, na verdade, é alguém que siga a letra da Constituiç­ão e das leis. A isso chamo “um conservado­r”.

Chega de feitiçaria­s do “novo constituci­onalismo” e de triplos saltos carpados hermenêuti­co-dialéticos do vale-tudo de toga —preta por fora e vermelha por dentro.

Ordem no tribunal! Facebook: https://goo.gl/OuAdxa

Ao indicar um nome ao STF, Temer deve, sim, uma resposta ao movimento que o conduziu à Presidênci­a

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