Folha de S.Paulo

Oposição abandona diálogo na Venezuela

Coalizão acusa Nicolás Maduro de não cumprir promessas de soltar políticos presos e de liberar ajuda humanitári­a

-

Negociaçõe­s mediadas pelo Vaticano estavam paralisada­s há 2 meses; Legislativ­o faz moção de repúdio à Rússia

A oposição da Venezuela abandonou nesta quinta (26) o diálogo com o governo acusando o presidente Nicolás Maduro de descumprir a promessa de soltar adversário­s presos e permitir a entrada de produtos escassos no país.

A negociação era conduzida pelos ex-dirigentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Martín Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana) e mediada pelo Vaticano, mas não avançava havia dois meses.

Em nota, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) disse que a tentativa de diálogo “é um capítulo encerrado que não voltará a se abrir” e chamou seus seguidores a reforçarem os protestos contra o chavista.

“O descumprim­ento dos acordos e sobretudo a resposta grosseira e soberba do regime às demandas do Vaticano revelaram o que o povo venezuelan­o está careca de saber: que o regime não tem palavra”, diz o comunicado.

Ela faz referência à carta do secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, pedindo ao chavismo que acelerasse a libertação dos opositores presos, a entrada de ajuda humanitári­a e o fim da declaração de desacato da Assembleia Nacional, dominada pela oposição.

As cobranças, feitas em 1º de dezembro, irritaram Maduro, que chamou o Vaticano de “sabotador” e “cúmplice na tentativa de implodir o diálogo”. Países como Argentina, Brasil e Colômbia deram apoio à carta de Parolin.

Desde a reação explosiva do presidente, o diálogo não avançou. Para os opositores, apenas a partir da mobilizaçã­o popular é que será possível levar Maduro a convocar eleições que abreviem seu mandato, a encerrar em 2019.

“Nenhum acordo terá sucesso no alcance de uma mudança política urgente e na defesa dos direitos econômicos e sociais da população se este não for apoiado por uma crescente e sustentada mobilizaçã­o cidadã.”

A declaração confirma a tendência da maioria dos partidos opositores em abandonar o diálogo, demonstrad­a nos protestos de segunda (23). Eles acusam o presidente de usar o diálogo para querer protelar a crise no país até a próxima eleição.

O desabastec­imento de remédios e alimentos, a hiperinfla­ção —de quase 500% em 2016— e a dificuldad­e de o governo de resolver a situação socioeconô­mica com as atuais medidas tendem a agravar a crise e acirrar os ânimos entre os dois lados.

O ex-candidato presidenci­al Henrique Capriles afirmou que o diálogo só será possível “quando se ouça a voz do povo”. “Para estes senhores do governo o diálogo é um monólogo: ou se faz o que eles querem o não se faz nada”, disse o líder opositor.

Maduro não havia se manifestad­o até a conclusão desta edição. Seu ministro das Finanças, Ramón Lobo, acusou a MUD de não querer trabalhar pelo país. RÚSSIA A decisão da oposição de deixar o diálogo venezuelan­o foi criticada pela Rússia, que fez uma defesa pouco comum do governo chavista.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores russo disse que os adversário­s de Maduro “estabelece­ram um rumo à desobediên­cia civil”.

Em retaliação, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, aprovou uma moção de repúdio a Moscou por interferên­cia em assuntos internos da Venezuela.

A justificat­iva é a mesma usada pelo governo chavista em reprovaçõe­s a críticas de outros países, principalm­ente dos EUA e de países vizinhos não aliados, como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai.

 ?? Fernando Llano/Associated Press ?? Manifestan­tes da oposição fazem ato a favor da Assembleia Nacional em uma das sessões plenárias de rua em Caracas
Fernando Llano/Associated Press Manifestan­tes da oposição fazem ato a favor da Assembleia Nacional em uma das sessões plenárias de rua em Caracas
 ?? Carlos García Rawlins/Reuters ?? O presidente do Legislativ­o, Julio Borges, em plenária aberta
Carlos García Rawlins/Reuters O presidente do Legislativ­o, Julio Borges, em plenária aberta
 ?? Presidênci­a da Venezuela - 25.jan.2017/Xinhua ?? Nicolás Maduro participa de reunião da Celac na quarta (25)
Presidênci­a da Venezuela - 25.jan.2017/Xinhua Nicolás Maduro participa de reunião da Celac na quarta (25)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil