Ministro da Educação tem 1 a cada 5 compromissos em base eleitoral
Cotado para disputa ao governo de Pernambuco, Mendonça Filho prioriza agendas no Estado
Uso de aeronaves da FAB 17 vezes é alvo de apuração da Comissão de Ética da Presidência; ele nega ação política
Praticamente um em cada cinco dias com agendas oficiais de 2016 do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), ocorreu em Pernambuco, sua base eleitoral e onde é cotado para disputar as eleições ao governo estadual.
Em seus primeiros seis meses e meio no cargo pela gestão Michel Temer, ele passou quase um mês por lá, conforme levantamento da Folha dos compromissos oficiais divulgados pelo ministério, incluindo despachos internos.
Dos 152 dias com agendas oficiais, 98 foram no Distrito Federal, onde fica a pasta. Dos Estados, nenhum foi mais privilegiado do que Pernambuco —alvo de 27 dos demais 54 compromissos de Mendonça Filho ou, se incluídos os eventos em Brasília, 18% do total.
Em São Paulo, por exemplo, segundo destino mais recorrente, houve dez agendas.
Antes de virar ministro e ser cotado ao governo pernambucano, Mendonça Filho foi eleito deputado federal. É também a principal liderança do DEM no Estado.
Ele negou à Folha que esteja priorizando ações em seu Estado de origem como forma de intensificar a agenda política (leia nesta pág.). AVIÕES DA FAB O ministro mandou abrir, em 16 de setembro, um escritório do MEC no Recife, facilitando sua permanência.
Com exceção de uma agenda em uma quinta, os outros compromissos em seu Estado ocorreram às sextas ou segundas, permitindo emenda com os finais de semana.
Em 17 oportunidades, Mendonça Filho se deslocou com aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) para chegar ao Recife ou sair de lá. Um decreto de 2015 veta que ministros usem aviões da FAB para ir às suas casas sem justificativa.
O agendamento de compromissos nesses locais é investigado pela Comissão de Ética da Presidência. “A observância dessa regra deve inibir formas oblíquas de utilização dos voos da FAB para proveito da agenda pessoal”, informou Mauro Menezes, presidente da comissão.
O órgão investiga desde novembro a utilização que Mendonça Filho fez das aeronaves, mas ainda não há resultado. Outras 20 autoridades do governo Michel Temer são também alvo de investigação.
Em dezembro, a revista “Veja” publicou fotos de uma carona dada pelo ministro, em avião da FAB, a dois vereadores do município de Belo Jardim, terra de sua família.
O ministro ainda teve outros sete dias com agendas em Brasília com pessoas de Pernambuco, como o secretário de Turismo do Recife. Deu posse em setembro ao vice-governador de Pernambuco, Raul Henry (PMDB), no Conselho Nacional de Educação. PERFIL Mendonça nunca teve atuação ligada à educação. Ele foi um dos expoentes do apoio ao impeachment da expresidente Dilma Rousseff na Câmara. Em maio, logo após assumir a pasta, foi alvo de polêmica após reunião com o ator Alexandre Frota para
MENDONÇA FILHO
ministro da Educação
“
Eu moro em Pernambuco e tenho obrigação de ir pra lá, onde minha mulher está. Minha postura é técnica, quem acompanha minha vida pública sabe que eu sou um político que tem um lastro técnico
Total foi o gasto do ministro com voos com Recife como origem ou destino receber propostas da área.
Para Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, esse perfil enfraquece as pautas da educação.
“A relação com os municípios fica meramente política, a educação perde por não ter um gestor que de fato utiliza o poder no cargo para afirmar a agenda da educação”, diz. “Fica evidente que o ministro quer utilizar seu tempo como ministro para se firmar no xadrez político do Estado.”
A principal realização do MEC com Mendonça Filho à frente da pasta foi o projeto de reforma do ensino médio, encaminhado ao Congresso.
Educadores se dividiram sobre o mérito das propostas, que incluem a flexibilização do currículo nessa etapa. O método adotado, porém, por medida provisória, foi bastante criticado por limitar os espaços e tempo de debate.
Heleno Araújo, secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, reclama da relação do ministro com o Fórum Nacional de Educação —oficializado em 2010 pelo MEC para interlocução com a sociedade civil.
“Estamos com o calendário defasado para as rodadas regionais da Conferência Nacional de Educação de 2018 [a Conae é a instância de discussão dos rumos da educação com a participação de entidades ligadas ao tema].” RAPHAEL HERNANDES
“os municípios fica Fica evidente que o