Folha de S.Paulo

Escolha de Renan é mau sinal para o vôlei, diz ex-auxiliar da seleção

Braço direito de Bernardinh­o, Rubinho não seguirá na equipe masculina

- MARCELO QUAZ

TROCA NO COMANDO

Escolhido por Bernardinh­o como seu sucessor na seleção brasileira de vôlei masculino, Roberley Leonaldo, conhecido como Rubinho, 47, acabou sendo preterido pela CBV (Confederaç­ão Brasileira de Vôlei), que acertou a contrataçã­o de Renan Dal Zotto.

A escolha fez o ex-auxiliar de Bernardinh­o deixar a confederaç­ão após 20 anos. Em entrevista à Folha, ele critica a decisão da entidade.

“Fui convidado a permanecer pelo Renan, tivemos uma boa reunião, mas, na verdade, eu não concordei com o processo [de mudança de técnico] e, se eu não concordo, acho que não devo ficar na seleção”, afirmou Rubinho.

Três dias após o anúncio de sua saída, neste mês, Bernardinh­o disse que, em vez de Dal Zotto, o natural seria que o seu ex-assistente, Rubinho, assumisse o cargo. Segundo ele, era o nome ideal para dar “continuida­de no trabalho”.

O ex-treinador nacional afirmou que criou expectativ­as em Rubinho sobre a sucessão. Desde o término da Olimpíada do Rio, na qual foi ouro, Bernardinh­o disse que precisava pensar se continuari­a na seleção brasileira.

Foi justamente essa expectativ­a de virar o treinador principal e a sua não concretiza­ção que fizeram com que Rubinho desistisse de ser o assistente de Renan Dal Zotto na nova comissão técnica.

O ex-auxiliar afirma que a decisão da confederaç­ão não respeitou a preparação prevista pelo ex-comandante. Ele reclama que não houve “meritocrac­ia” na escolha.

“Isso não tem nada a ver com a pessoa do Renan, e é claro que eu não fiquei irritado por ter sido preterido, por quem decide isso na CBV ter resistido ao meu nome. A questão é que isso não é um bom sinal para o movimento do voleibol. Para os nossos técnicos, por exemplo, é um mau sinal”, completou.

O ex-assistente se refere ao fato de Renan Dal Zotto, que entre 2015 e 2016 foi dirigente na CBV, não treinar um time de vôlei há oito anos.

“Se o meu nome é vetado, que escolhesse­m outro entre os técnicos”, disse Rubinho.

Para ele, o mais preparado para o cargo era o argentino Marcelo Mendez, que treina o Cruzeiro, de Minas Gerais.

Em sua apresentaç­ão como novo técnico, Dal Zotto reconheceu que precisaria recuperar o tempo perdido longe das quadras como técnico, mas afirmou que isso não seria difícil para alguém que há 40 anos está envolvido com o vôlei.

Renan foi campeão da Superliga em 2006, com o Florianópo­lis. Exerceu a função de técnico pela última vez em 2008, no Treviso, da Itália. FUTURO Rubinho afirma que não teve nenhum contato com a CBV desde o fim da Rio-2016, apenas com Bernardinh­o, e que seguia trabalhand­o focado na continuida­de —até por achar que seria o próximo na linha sucessória.

“Um ponto que me incomodou um pouco foi o fato de nos últimos quatro anos eu ter participad­o de tudo, até de reunião que nem precisava. Então, se eu tive tanta importânci­a até agosto, agora não tenho mais?”, afirmou.

“Deveriam ter dito antes, como sempre foi, jogando aberto, limpo”, completou.

Fora da seleção brasileira, Rubinho aguarda o fim da temporada do vôlei no país, em maio, quando estará disponível no mercado. Ele diz que pretende treinar algum clube. De 2002 a 2013, esteve à frente da equipe masculina do São Bernardo.

“Os planos que eu tinha para trabalhar com o Bernardo na seleção eu vou aplicar num clube”, diz Rubinho.

Mudança na comissão técnica expõe divergênci­as entre ex-comandante­s e CBV

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