Folha de S.Paulo

Albert Serra deixa presepadas e faz seu primeiro filme digno

- SÉRGIO ALPENDRE

FOLHA

Em alguns casos, a ideia de autor mais atrapalha do que ajuda. Vemos um filme condiciona­do pelo que o autor fez anteriorme­nte e esquecemos de nos ater ao filme. É o que pode acontecer com o diretor catalão Albert Serra.

Seus trabalhos normalment­e abusam de uma lentidão artificial, numa radicaliza­ção trôpega do estilo de Andrei Tarkóvski e Sharunas Bartas, preguiçosa­mente burilada para impression­ar plateias de festivais internacio­nais.

Não só as plateias, digase. Seu longa anterior, “História da Minha Morte”, ganhou o Leopardo de Ouro no prestigiad­o Festival de Locarno de 2013.

Mas de algum modo, em “A Morte de Luís 14”, seu longa mais recente, encontramo­s uma adequação. A começar pelo veterano JeanPierre Léaud, ator símbolo da “nouvelle vague” (que por cinco vezes foi o alter-ego de François Truffaut), como o Rei Sol em seus últimos dias de vida, ao lado de seus cachorros e súditos.

O rosto de Léaud nos mostra uma longa e lenta agonia. O ator incorpora a condição do personagem de tal forma, com uma presença tão forte e constante, que conduz, também, o tempo de todo o filme. Calhou, felizmente, que esse tempo combina com o de Serra.

O diretor baseou-se nas memórias do filósofo francês Saint-Simon e do marquês de Dangeau (este um contemporâ­neo de Luís 14) para escrever o roteiro com Thierry Lounas e, pela primeira vez, chegou perto de uma verdadeira aclamação crítica. Para a crítica espanhola, por exemplo, esse longa foi um dos melhores lançamento­s de 2016.

Claro que há certo exagero nessa apreciação. Mas é inegável que desta vez, auxiliado pela direção de fotografia rigorosa e precisa de Jonathan Ricquebour­g, Serra finalmente fez um filme digno, longe das presepadas que costuma cometer em nome de uma suposta liberdade artística. (LA MORT D EL OUI S14) DIREÇÃO Albert Serra ELENCO Jean-Pierre Léaud, Patrick d’Assumçao e Irène Silvagni PRODUÇÃO Portugal/França/Espanha, 2016, 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom

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Milla Jovovich encarna pela sexta vez Alice, uma mocinha barra-pesada geneticame­nte modificada em ‘Resident Evil’

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