Folha de S.Paulo

Vão imunizar as pessoas que moram em áreas rurais e não chegam a ir à cidade.

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Folha - Como o sr. avalia o atual surto de febre amarela? Qual o risco para quem vive em área urbana?

Pedro Tauil - Hoje os casos que estão acontecend­o são de febre amarela silvestre. Para evitá-los, a única medida é manter o nível de cobertura vacinal elevado, acima de 80%. Além disso, a gente vive o risco de a febre se urbanizar, isto é, passar a ser transmitid­a pelo Aedes aegypti. Isso pode se dar quando pessoas com febre amarela silvestre vão para a cidade no período de transmissi­bilidade, em que o vírus está circulando no sangue periférico, de dois dias antes do início dos sintomas a cinco dias após. É uma espada de Dâmocles sobre a nossa cabeça. Qual é o risco de que isso aconteça?

É preciso ressaltar que isso não está acontecend­o hoje e pode ser evitado, como já foi outras vezes. Mas, quanto mais gente com febre silvestre, maior é o risco de essas pessoas virem para a cidade e infectarem mosquitos urbanos. O surto atual é mais preocupant­e do que o anterior, de 2008 e 2009? Por quê?

É mais grave porque tem mais casos de febre amarela silvestre, que eventualme­nte podem vir para as localidade­s onde existe o aedes. O que o país poderia fazer para avançar no combate ao vírus da febre amarela?

É preciso ir além da vacinação em postos fixos. É importante que os níveis federal, estadual e municipal façam uma vigilância da cobertura vacinal, inclusive em “épocas de paz” [sem surto], com equipes móveis permanente­s, que O país pode vir a eliminar a febre amarela silvestre?

Não, febre amarela silvestre não é erradicáve­l, porque vive entre os animais, em mosquitos silvestres. Não dá para acabar com as matas. O ciclo silvestre vai continuar existindo, assim como, provavelme­nte, mortes de macacos.

O que nós não queremos e podemos evitar é casos humanos, por meio de uma boa cobertura vacinal. Há motivo para pânico?

Não. O que precisa é pessoas que moram em áreas com transmissã­o silvestre ou para lá se dirigem serem vacinadas. As medidas para enfrentar estão sendo tomadas e é preciso prudência. Algumas pessoas não têm indicação da vacina [como doentes de câncer] e podem ter efeitos adversos. A que atribui o atual surto?

Provavelme­nte à baixa cobertura vacinal na área onde ocorreu o ciclo silvestre [em Minas, era de 50%]. Não podemos baixar a guarda. E se der tudo errado e acontecer a transmissã­o urbana?

Teria que vacinar rapidament­e toda a população urbana, o que traria o desafio da quantidade de vacinas.

Por isso precisamos introduzir a imunização no calendário infantil de todo o Brasil [hoje, está apenas nas áreas de vacina recomendad­a].

Assim, aos poucos, toda a população estaria protegida.

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