Folha de S.Paulo

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A renúncia de alguns membros do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria ocorrida na última semana lançou luz sobre um antigo problema do país: a tentativa de transforma­r órgãos que deveriam ser de Estado em instâncias subordinad­as a interesses de governos ou partidos.

O gesto contrasta com incompreen­sível silêncio nos anos anteriores, quando já era conhecida a crise no setor.

Nesse sentido, o Brasil só pode lamentar a ausência de uma ação igualmente vigorosa desses conselheir­os que, por exemplo, tivesse denunciado o criminoso contingenc­iamento de recursos ocorrido nos governos anteriores e que privou o país de investimen­tos essenciais na área de segurança.

Basta dizer que, entre 2003 e 2015, foram executados apenas 24,3% dos recursos previstos no orçamento para o Fundo Penitenciá­rio. Em 2016 a execução mais que dobrou, já com a nova sistemátic­a adotada pelo atual governo.

Políticas de segurança não podem ser encaradas apenas como ações de governos, que começam e terminam a cada quatro anos. Submeter o planejamen­to da área à lógica de ciclos de poder é condenar o país a nunca encontrar solução para esse desafio.

A crise penitenciá­ria continua sendo motivo de preocupaçã­o. Insisto: temos no país experiênci­as que merecem ser conhecidas e aprimorada­s para colaborar na superação do estágio de brutalidad­e e ineficiênc­ia em que se encontra nosso sistema prisional.

Recentemen­te dei como exemplo duas iniciativa­s em que investimos durante nosso governo em Minas: as Apacs e a PPP penitenciá­ria, primeira experiênci­a do tipo no país e que não guarda semelhança com os modelos de terceiriza­ção em vigor em outras regiões.

Acrescento hoje duas outras ações pioneiras da mesma época: o Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade e as alas exclusivas para a comunidade LGBT.

O centro permitia que detentas permaneces­sem com seus filhos até que completass­em um ano de idade, em quartos sem grades, com área de convivênci­a, refeitório e enfermaria. Combatia-se a desagregaç­ão familiar e fortalecia­se os vínculos que ajudam na ressociali­zação.

Já as alas exclusivas visavam prevenir abusos, numa iniciativa que já vem sendo adotada por outros Estados e merece ser ampliada.

É de experiênci­as como essas e de outros exemplos de sucesso ao redor do país que sairão soluções para impedir a repetição das tragédias rotineiras que temos testemunha­do.

Há esperança, portanto. Basta observar que, apesar de enormes dificuldad­es, o atual governo está agindo (a execução recorde do Funpen em 2016 é exemplo disso), em forte contraste com o imobilismo que foi a marca das administra­ções anteriores.

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