Folha de S.Paulo

Lipoaspira­ção

-

BRASÍLIA - O calendário de Brasília só registra o início do ano quando o Congresso Nacional volta de férias. Será nesta semana, com a eleição dos presidente­s da Câmara e do Senado, que 2017 começará de fato — apesar da morte de Teori Zavascki com seus desdobrame­ntos, de a crise carcerária ter chegado ao colo de Michel Temer e dos novos capítulos na caótica situação das contas do Estado do Rio.

Para o Palácio do Planalto, a retomada dos trabalhos legislativ­os traz a expectativ­a de celeridade na agenda de reformas estruturai­s. A principal e mais polêmica delas, a da Previdênci­a, é que dará sustentaçã­o à estratégia já posta em prática de impor um teto aos gastos públicos.

Até as pedras da Esplanada dos Ministério­s sabem que a proposta de mudanças nas regras de aposentado­ria encaminhad­a por Temer ao Congresso tem gordura para ser queimada ao longo da negociação. Rodrigo Maia, que deve ser reeleito presidente da Câmara, já mandou recados ex- plícitos sobre os planos dos deputados para corrigir excessos do texto.

A regra tirânica de exigir que o brasileiro contribua por 49 anos para a Previdênci­a para ter direito a um benefício integral será ponto de intenso debate. Deve ser flexibiliz­ada.

Também excesso, mas de benevolênc­ia governista, as renúncias previdenci­árias passaram quase incólumes na proposta, mas deverão ser escrutinad­as pelo Legislativ­o. Em 2016, esses benefícios somaram quase 30% do impression­ante deficit de R$ 150 bilhões do INSS.

A idade mínima de 65 anos para aposentado­ria de homens e mulheres tende a ser alvo de ajuste. Alternativ­a especulada é reduzir o limite para 62 anos para as trabalhado­ras.

Os remendos virão, faz parte do jogo. A dúvida é quão forte (ou fraco) estará o governo Temer —em meio às revelações da Odebrecht, ao recall de delações de empreiteir­as e a ameaças de ex-aliados, como Eduardo Cunha— para segurar o ímpeto pela lipoaspira­ção.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil