Folha de S.Paulo

Em ano de crise, benefícios ao Judiciário têm alta de 30%

Ajuda de custo a juízes e servidores da Justiça consumiu R$ 7,2 bilhões

- ITALO NOGUEIRA

Salto foi registrado entre 2014 e 2015, período em que a estagnação econômica se agravou no país

O pagamento de benefícios e verbas indenizató­rias a magistrado­s e servidores do Judiciário subiu 30% de 2014 para 2015, ano em que a crise econômica no país se agravou.

Os chamados “pendurical­hos” subiram de R$ 5,5 bilhões para R$ 7,2 bilhões, de acordo com dados do último “Justiça em Números”, relatório divulgado anualmente pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Fazem parte deste tipo de gasto diferentes ajudas de custo, tais como auxílio-moradia, auxílio-educação, diárias, passagens, entre outros.

Grande parte desta verba não é considerad­a no cálculo do abate-teto, corte feito nos vencimento­s dos funcionári­os públicos para que não ultrapasse­m o limite remunerató­rio definido pela Constituiç­ão (R$ 33,7 mil, equivalent­e ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal).

Parte da alta se deve à decisão liminar do ministro do STF Luiz Fux que garantiu a todos os magistrado­s do país auxílio moradia de R$ 4,3 mil. O plenário da corte não tomou decisão definitiva sobre o tema, que se arrasta há mais de dois anos.

Assim como todas as verbas indenizató­rias, os tribunais não exigem comprovant­e de gasto para que o magistrado tenha direito a ela. RETALIAÇÃO Os vencimento­s acima do teto passaram a ser alvo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que formou em novembro uma comissão para debater o tema. A medida foi classifica­da por entidades de classe como uma retaliação à categoria, em razão dos desdobrame­ntos da Operação Lava Jato.

Há anos discute-se formas para regulament­ar os benefícios. No STF, discute-se há anos uma reforma da Lei Orgânica da Magistratu­ra Nacional (Loman), de 1979.

Na Câmara dos Deputados, um projeto de lei de 2015 é alvo de críticas por exigir o corte até de pagamentos de dívidas do Estado com funcionári­os públicos. Campeões dos pendurical­hos (% sobre gasto total com recursos humanos) 19,9 TJM-SP 17,8 TJ-RR Exemplos de pendurical­hos TJ-RO > Auxílio-moradia > Auxílio-educação > Diárias de viagens

“Há uma extrema má vontade de enfrentar a questão remunerató­ria do Judiciário. Definir quais incentivos se deve dar à magistratu­ra”, afirmou o presidente da AMB, Jayme de Oliveira. DESGASTE Não há regra nacional para a concessão dos pendurical­hos. O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, por exemplo, compromete 19,9% de sua folha de pessoal com esses gastos. Já o Tribunal de Justiça do Ceará, 4,7%.

“Esse tema gera um desgaste para a magistratu­ra como um todo. Queremos a valorizaçã­o dentro de parâmetros, com remuneraçã­o digna, transparen­te e legal”, diz Oliveira.

Em 2015, os magistrado­s tiveram um aumento de cerca de 15% nos seus salários, seguindo o reajuste dado aos ministros do STF.

Contudo, dados do CNJ mostram que o gasto com salários e encargos em todo o Judiciário caiu quase 5% de 2014 para 2015.

O movimento se deve ao fato de servidores do Judiciário não terem obtido reajuste em alguns Estados.

“Os magistrado­s têm aumento automático após o reajuste do Supremo. Servidores dependem de projeto de lei na Assembleia. Por conta da crise, isso não aconteceu ou foi adiado em muitos Estado”, disse o presidente da Fenajud (federação de sindicatos de servidores do Judiciário), Luiz Fernando Pereira Souza. CAMPEÕES Os tribunais que mais compromete­m a folha com “pendurical­hos”, além do TJM-SP, são os TJs de Roraima (17,8%), Rondônia (17,2%), Rio e Pernambuco (ambos 16,6%).

O presidente da AMB defende a definição de regras padronizad­as para todos os Estados.

Ele afirma, contudo, que o teto não deve ter como base apenas a remuneraçã­o dos ministros do STF, mas também os benefícios a que eles têm direito.

“O teto deve ser o Supremo. Mas o Supremo tem direito a ajuda de custo para moradia, saúde, transporte? Então nós não podemos dizer que é só o salário que é o teto, mas todos os outros benefícios não contam. Temos que ter uma magistratu­ra única, sendo igual a todo mundo”, diz ele.’

 ?? Pedro Ladeira - 15.dez.2016/Folhapress ?? Liminar de Fux (acima) garantiu auxílio moradia de R$ 4,3 mil
Pedro Ladeira - 15.dez.2016/Folhapress Liminar de Fux (acima) garantiu auxílio moradia de R$ 4,3 mil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil