Folha de S.Paulo

Tentativa de apressar delação da Odebrecht incomoda governo

Aliados de Temer acreditam que Cármen Lúcia, presidente do STF, busca proeminênc­ia nacional

- DANIELA LIMA

Colegas da presidente do Supremo apostam que ela irá homologar delação que cita políticos até amanhã

A expectativ­a de que a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, homologue até terça-feira (31) a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht incomodou aliados do presidente Michel Temer.

Pessoas próximas ao presidente enxergam na “pressa” da ministra mais um sintoma de que ela busca proeminênc­ia para se firmar como líder nacional. Integrante­s do governo afirmam ainda que Cármen Lúcia, agindo dessa forma, busca criar um fato “político”, ampliando a ansiedade sobre o tema.

Entre integrante­s do governo, a leitura é que a presidente do STF acabará dando ares ainda maiores de excepciona­lidade ao episódio caso de fato chame para si a responsabi­lidade da homologaçã­o antes do retorno oficial dos trabalhos do Judiciário, que está em recesso. O Supremo volta ao ritmo normal no dia 1º.

A homologaçã­o é a última etapa para que o acordo seja validado juridicame­nte. O acordo de colaboraçã­o premiada da Odebrecht caiu nas mãos da presidente do Supremo após a morte de seu colega Teori Zavascki, em um acidente aéreo no dia 19. Ele era o relator da Operação Lava Jato na Corte.

A expectativ­a era a de que Teori homologass­e a delação em fevereiro. Um novo relator para o caso no Supremo deve ser escolhido por sorteio. IMPACTO A delação da Odebrecht é apontada como a mais importante da Lava Jato. Foram mencionado­s até agora nas negociaçõe­s nomes do governo Temer, incluindo o próprio presidente, além dos ex-presidente­s Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin e parlamenta­res. Todos negam irregulari­dades.

Cármen Lúcia passou o sábado (28) em seu gabinete em Brasília estudando o material da delação. Não se sabe se, além de homologar a documentaç­ão, a presidente do STF também decidirá levantar o sigilo dos depoimento­s prestados pelos executivos da empreiteir­a, tonando público o conteúdo dessas falas.

Com relação a isso, aliados de Temer decidiram adotar um tom pragmático. Dizem que a avalanche de revelações viria à tona, cedo ou tarde, e que não há o que fazer quanto a isso. Entre advogados e políticos, a expectativ­a é que a delação da Odebrecht am- plie substancia­lmente o alcance da Lava Jato.

Integrante­s do Congresso e do governo já dão como certo o fato de que esse acordo trará uma série de implicaçõe­s.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Michel Temer participa de ato em memória do Holocausto, neste domingo, em São Paulo

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