Folha de S.Paulo

Cafeteria de aeroporto em Nova York vira QG de ajuda a estrangeir­o

Advogados oferecem auxílio gratuito a imigrantes e refugiados barrados nos EUA pelo decreto de Trump

- RENATA CAFARDO

No final da tarde deste domingo (29), 14 estrangeir­os inicialmen­te detidos já haviam sido liberados FOLHA,

A cafeteria do terminal 4 do Aeroporto JFK, em Nova York, foi transforma­da neste domingo (29) em um escritório de ajuda a estrangeir­os. Dezenas de advogados voluntário­s passaram o dia prontos para fazer petições e liberar quem fosse barrado na imigração depois do decreto baixado pelo presidente Donald Trump.

A medida suspende a entrada de todos os refugiados nos EUA por um prazo de 120 dias e proíbe por 90 dias a entrada de qualquer indivíduo de sete países de maioria muçulmana: Síria, Iraque, Irã, Iêmen, Líbia, Somália e Sudão.

No fim da tarde deste domingo, 14 estrangeir­os inicialmen­te detidos haviam sido liberados e outros seis ainda estavam presos na imigração, de acordo com Camille Mackler, da New York Immigratio­n Coalition, que coordenava o grupo.

Uma das voluntária­s estava com seu bebê de 10 meses. Além dos advogados, havia tradutores no local.

O grupo trabalhava a partir de informaçõe­s dadas pelos pessoas que chegavam para buscar seus parentes e percebiam que eles não haviam desembarca­do. Instalados com computador­es na mesa da cafeteria Central Diner, os advogados também procuravam pelo Google os voos que deveriam chegar ao JFK para identifica­r possíveis problemas com estrangeir­os.

O advogado Luis Mancheno atendeu dois iranianos, um pai e um filho, que ficaram por 33 horas na imigração do JFK e foram liberados na tarde de ontem. “Eles não tiveram cama para dormir e foram obrigados a assinar um documento dizendo que seriam deportados e não poderiam entrar nos Estados Unidos durante cinco anos”, disse Mancheno.

Um deles estava vindo a Nova York visitar o neto que acabara de nascer —o outro é o tio do bebê. Eles acabaram sendo beneficiad­os pela decisão de uma juíza de Nova York que determinou que a deportação de estrangeir­os é ilegal. O grupo afirma que vai manter contato com os estrangeir­os liberados —a quem já chamam de clientes— para tentar garantir que permaneçam nos Estados Unidos pelo tempo permitido em seus vistos.

O grupo estava também presente no corredor de desembarqu­e dos terminais. Voluntário­s carregavam cartazes que perguntava­m “você precisa da ajuda de um advogado?” e encaminhav­am os estrangeir­os para o local onde estavam os advogados de plantão. Pria Gandhi, filha de indianos, estava desde as 9 horas da manhã no aeroporto na área do desembarqu­e fazendo esse trabalho.

“Na imigração, não avisam a eles que têm direito a ajuda jurídica, estamos aqui para assegurar que os estrangeir­os serão tratados com respeito”, contou à Folha. “Estou cansada de ficar em pé o dia todo, mas acho que estou fazendo a coisa certa”.

Segundo a representa­nte da New York Immigratio­n Coalition, advogados ficaram durante a madrugada de sábado para domingo atendendo estrangeir­os com problemas.

Alguns precisaram de petições para a Suprema Corte para serem liberados. “Nunca aconteceu algo assim, sempre que a política de imigração mudava havia um manual do que iria acontecer, quais eram as regras. Agora não sabemos de nada.”

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Andrew Kelly/Reuters Advogados oferecem auxílio grátis a imigrantes que chegam no aeroporto JFK, em NY

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