Desafios da inteligência artificial
A INTELIGÊNCIA artificial já está entre nós. Muita gente ainda não se dá conta, mas aos poucos ela já aparece na vida cotidiana. Um exemplo são os aplicativos que reconhecem “linguagem natural”. Por eles conversamos com a máquina como falamos com outras pessoas. tarefas. Em breve, será possível E a máquina responde. mandar uma mensagem de texto
Outro componente cada vez mais ou voz para seu “assistente virtual” visível é a análise de imagens. Há reservar uma mesa em um restaurante, serviços de hospedagem de fotos emitir uma passagem aérea capazes de classificar automaticamente ou entregar um “bom vinho” as imagens por seu conteúdo na sua casa (o próprio assistente (paisagem, grupos de pessoas, decidirá o que é “bom” para você). objetos etc.). Esse tipo de análise Em suma, estamos em um processo identifica até mesmo conteúdo pornográfico, acelerado de “cognificação”. sem a necessidade de intervenção Estamos adicionando “inteligência” humana. Por meio do chamado às aplicações de internet “aprendizado de máquina”, e também aos objetos físicos (como o computador “enxerga” o mundo os carros conectados e a chamada e distingue o que há nele. “internet das coisas”).
Outra aplicação recente são os Como toda nova tecnologia, a “chatbots”, aplicativos que conversamcomosusuáriosedesempenham inteligência artificial traz desafios. Em um workshop que conduzi na Universidade Columbia, identificamos alguns. O primeiro é a possível redução de empregos. Dois professores de Oxford (Frey e Osborne) publicaram estudo apontando que 47% dos empregos nos EUA vão desaparecer em razão da automação nas próximas duas décadas (e não haverá muro que possa mudar essa situação).
Outro desafio é assegurar que a inteligência artificial seja utilizada em benefício da humanidade, e não contra ela. Essa preocupação levou nomes de peso, como Stephen Hawking, a assinar uma carta aberta em defesa de um uso responsável e ético da inteligência artificial.
Há também pontos cegos na tecnologia. Um estudo recente mostrou que uma aplicação de reconhecimento facial foi incapaz de identificar rostos de afrodescendentes. A razão alegada foi que os engenheiros que desenvolveram a tecnologia utilizaram predominantemente imagens de brancos para alimentar a base de dados da aplicação, tornando-a virtualmente inútil para boa parte da população global.
Outra preocupação crucial é a moralidade. Como ensinar “bom senso” ou “ponderação” para uma máquina? Por exemplo, nos carros que se autodirigem, se um acidente é inevitável, quem a máquina deverá tentar salvar? O passageiro do carro ou dez crianças que atravessam a rua naquele momento?
São dilemas cujas variações são infinitas e precisarão ser enfrentados. Na minha opinião, o melhor caminho para isso é fazer avançar uma outra tecnologia, só que nesse caso milenar: o direito.
Nos carros autônomos, se um acidente é inevitável, a máquina deve tentar salvar o passageiro ou o pedestre?
RONALDO LEMOS