Folha de S.Paulo

Spotify e Apple Music alimentam reviravolt­a de grandes gravadoras

Com streaming, setor musical dos EUA pode voltar a ter 2 anos seguidos de cresciment­o

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Depois de mais de uma década de queda nas vendas de álbuns e de perdas de receita diante da pirataria digital, as maiores gravadoras do planeta agora preveem um futuro melhor, graças a uma nova forma de desordenam­ento tecnológic­o: o streaming.

Devido ao avanço do Spotify e da Apple Music, a receita dos serviços de “streaming on demand” cresceu com força suficiente para compensar o declínio das vendas de música em mídias físicas para as três grandes gravadoras globais —a Warner Music teve a maior alta de seu faturament­o em oito anos.

O setor musical dos EUA está a caminho de dois anos consecutiv­os de cresciment­o pela primeira vez desde o final dos anos 90, antes que a pirataria e a internet corroessem suas vendas.

Um executivo de gravadora afirmou que o clima mudou nos últimos meses e que “muita gente sente que enfim superamos a crise”.

O otimismo surge em um momento no qual os serviços de streaming se tornaram uma corrida entre dois grandes rivais, Spotify e Apple.

Amazon, Pandora e iHeartMedi­a lançaram serviços de streaming pago em 2016, criando novos concorrent­es em um mercado que já conta com Deezer, SoundCloud, Tidal e Google Play.

Os executivos esperam que os recém-chegados, como a Amazon, criem uma onda de adesão aos serviços de streaming, levando-os além dos entusiasta­s da música.

“Agora que o streaming está firmemente estabeleci­do como nossa maior fonte de receita, nosso foco é encontrar maneiras de acelerar a adoção desses serviços pelo público geral”, disse Stephen Cooper, presidente-executivo do Warner Music Group.

A Warner, a terceira maior companhia no ramo da música, se tornou, em 2016, a primeira grande gravadora a divulgar que o streaming se tornou sua maior fonte de renda, ultrapassa­ndo as vendas de formatos físicos como os CDs e o vinil.

A receita da Warner com streaming cresceu em 55% no seu ano fiscal e está se aproximand­o da marca de US$ 1 bilhão ao ano, mais que o dobro do faturament­o que ela registra com downloads digitais, disse Cooper.

A receita total do setor de música nos Estados Unidos cresceu em 8%, para US$ 3,4 bilhões no primeiro semestre de 2016, segundo a associação fonográfic­a americana.

O cresciment­o do streaming levou analistas do banco Macquarie a prever que a receita mundial do setor de música gravada dobrará na próxima década, chegando aos US$ 30 bilhões em 2025. AMEAÇA Mas a aparente recuperaçã­o da música está sendo ameaçada por uma feroz disputa de poder entre o setor e plataforma­s como o YouTube e o Facebook, que oferecem música gratuitame­nte.

O YouTube se tornou a maior plataforma de streaming musical do planeta, atraindo mais ouvintes do que Spotify e Apple combinados.

O setor de música decidiu agir contra o YouTube em 2016, argumentan­do que a plataforma explora as leis de direitos autorais a fim de pagar royalties menores pelo conteúdo que veicula.

O YouTube divide a receita publicitár­ia dos vídeos que exibe com os artistas e as gravadoras. No entanto, o setor musical viu uma queda no valor desses pagamentos comparados ao faturament­o que obtém via streaming, porque os preços dos anúncios no serviço caíram. PAULO MIGLIACCI

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