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DE SÃO PAULO
O médico Áureo Ludovico de Paula está no meio de um dos conflitos médico-jurídicos mais intensos dos últimos tempos. Ele é um dos principais praticantes e defensores da técnica de cirurgia bariátrica conhecida como “gastrectomia vertical com interposição ileal (GVII)”. Foi ele quem operou o apresentador de TV Fausto Silva e o senador Romário (PSB-RJ).
Recentemente Romário apareceu visivelmente mais magro. Ele declarou ter feito a cirurgia para controlar o diabetes. A glicemia estava entre 300 e 400 mg/dl —o recomendado é ter menos que 100. Ele diz estar em 80 mg/dl agora.
Em entrevista à Folha ,o médico fala dos atritos com o Conselho Federal de Medicina, entidade para a qual a modalidade de bariátrica que realiza (provavelmente mais eficaz no tratamento de diabetes) ainda é experimental, só podendo ser realizada após estudos aprovados por um comitê de ética.
Na prática, no entanto, a cirurgia está liberada por uma decisão da Justiça que contraria o parecer do CFM. A decisão se deu a partir da opinião de uma junta de especialistas escolhida para avaliar o caso.
Para outros especialistas, como o médico Ricardo Cohen, coordenador do centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a prática ainda é arriscada. “Precisamos de opções de cirurgia para tratar o diabetes, mas essa ainda é experimental, faltam estudos de médio e longo prazo.”
A mudança de status ainda pode levar alguns anos, especula Cohen. Para de Paula, no entanto, já passou da hora de ela ser totalmente reconhecida no país. “Desde 1985 ela é usada para o tratamento de diabetes e obesidade.” Folha - Há quanto tempo o sr. realiza essa cirurgia? Qual é a vantagem dessa técnica?
Áureo de Paula - Há mais de dez anos. Na época a cirurgia bariátrica era considerada de alto risco para tratamento da obesidade.
Havia limites para tratar doenças como o diabetes. Após anos de estudos, ficou evidente seria possível tratar a doença com essa cirurgia. De onde veio o interesse dos famosos pelo seu nome?
Em geral, até 85 a 90% dos pacientes são curados ou entram em remissão do diabetes e outras doenças, como o colesterol elevado, hipertensão arterial, obesidade e outras. Houve testes clínicos e em animais o suficiente?
A GVII já é feita em humanos desde 1928, com publicação na revista “Annals of Surgery” e foi utilizada ao longo dos anos para múltiplas indicações clínicas, gastroenterológicas e até urológicas. Houve inúmeros trabalhos em animais. Para tratamento da obesidade e doenças associadas, ela é feita desde 1985. Por que o CFM deu parecer contrário à essa cirurgia fora do contexto de pesquisa?
A Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, composta por ilustres médicos e professores, aprovou a cirurgia GVII em 2010, como “não experimental”. Isso ocorreu após reuniões e seminários. O último teve a presença de mais de 40 especialistas de todo o Brasil. Está nas atas do CFM e no processo do judiciário.
A cúpula diretiva, não especialista, não referendou a decisão técnica, um exemplo único na história desse tribunal ético. A cirurgia está documentada em dezenas de publicações em revistas nacionais e internacionais com o meu nome e diversos outros autores, além de teses de doutoramento no Brasil, Canadá, Estados Unidos e outros. É realizada em países como Portugal, Itália, Índia, Turquia, Estados Unidos, França, Geórgia, Irã, e outros. A que o sr. atribui essa discordância entre a Justiça e o CFM?
Inicialmente, a discordância faz parte do esclarecimento das ideias e do aperfeiçoamento científico. A unanimidade é uma utopia. A Justiça Federal considerou a cirurgia como “não experimental.”
Essa decisão está em vigência, com efeito que atinge a todos no Brasil e que retroage no tempo. Portanto, a cirurgia nunca foi experimental.
A cúpula diretiva, integrada por médicos sem nenhuma vivência na área, é que discordou por motivos que somente eles podem responder. Quem é o paciente ideal para a interposição ileal?
O paciente com diabetes tipo 2, independente do peso.
É indispensável uma minuciosa avaliação com exames de pré-operatório e subsequente seleção —alguns pacientes podem ser excluídos.
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O paciente ideal é aquele com diabetes tipo 2, independente do peso. O índice de mortalidade é de 0,4%. Ela é tão segura quanto outras bariátricas