Folha de S.Paulo

A bomba do Fies

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O pior ainda está por vir. A conclusão se impõe da leitura dos dados sobre o Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies) em reportagem desta Folha no domingo (29).

Cabe ressaltar que nada há de errado em dar crédito para alunos de baixa renda custearem um curso universitá­rio. Ao contrário, pode ser um forte estímulo para aumentar o número de matriculad­os no ensino superior, que era de 7,8 milhões de pessoas em 2014.

Muito já se falou, porém, da irresponsa­bilidade que norteou a expansão do Fies nos governos de Dilma Rousseff (PT). Regras e condições de empréstimo foram considerav­elmente relaxadas em 2010, o que levou a uma explosão na quantidade de contratos.

Naquele ano em que Dilma se elegeu presidente da República, eram 76,2 mil os financiado­s. Quatro anos depois, o contingent­e chegava a 731,7 mil contemplad­os com o crédito amplamente subsidiado.

Para as universida­des privadas, foi o milagre da extinção da inadimplên­cia, um problema crônico. Até alunos com renda suficiente para pagar mensalidad­es recebiam estímulos para aderir ao Fies.

Para o estudante, as condições eram tentadoras: juros de 3,4% ao ano, carência de 18 meses e prazo de três vezes a duração do curso mais 12 meses. Ou seja, após quatro anos de estudo, o agraciado terminaria de saldar a dívida só 14 anos e 6 meses depois de formado.

O Fies foi mais um exemplo do descaso com a sanidade das contas públicas que ajudou a reeleger Dilma. Com a deterioraç­ão que se seguiu, ela foi obrigada a rever o programa, elevando os juros para 6,5% e restringin­do as condições para obter o financiame­nto.

Mal se começa a colher, agora, o resultado de tanta liberalida­de com o dinheiro do contribuin­te — dispêndio médio de R$ 13,6 bilhões ao ano no período de 2014 a 2016.

A inadimplên­cia no Fies, que sempre foi alta, está subindo. Era de 47% em 2014 e em 2016 chegou a 53% dos 526 mil contratos que já entraram na fase de pagamento. E há ao menos 1,7 milhão de financiame­ntos, firmados a partir de 2013, que nem chegaram a essa etapa.

É provável que o elevado desemprego entre jovens explique parte da impontuali­dade dos devedores por aqui. Mas, em países que também enfrentara­m crises no crédito estudantil, como os EUA, a inadimplên­cia não ultrapassa 30%.

Há um rombo bilionário à frente. O governo federal precisa ser mais transparen­te sobre suas dimensões e sobre como pretende equacioná-lo —até para dar condições de sustentaçã­o a um programa vital para o Brasil.

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