Folha de S.Paulo

A batalha de 2017

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No imaginário popular, o ano só começa após o Carnaval. Mas 2017 começou mais cedo e promete acabar mais tarde. Assim como não tivemos a ressaca pré-carnavales­ca, dificilmen­te teremos o tradiciona­l relaxament­o natalino. O ano promete.

Começou com chacinas nos presídios, a cúpula do governo denunciada nas operações policiais/judiciária­s, desemprego monstruoso, fracasso na economia, falência de Estados e municípios e a posse de Trump ampliando o obscuranti­smo. Tragédia de toda ordem!

As novas medidas antipovo e antinação anunciadas por Temer explicitam o real objetivo do golpe: trocar a política social em curso pelos velhos fundamento­s neoliberai­s e parar as operações de combate à corrupção. Por enquanto, as medidas adotadas ou anunciadas só agravam a situação, e aliados já esboçam incômodo com o rumo do governo. O debate central de 2017, portanto, será sobre duas pautas antagônica­s.

A partir desta quarta (1º), retomaremo­s a dura batalha travada no Congresso. Serão momentos tensos, de muito embate, porque a pauta é tensa. As reformas propostas por Temer (Previdênci­a, trabalhist­a, política, telecomuni­cações) representa­m duro golpe contra os trabalhado­res e contra a nação.

Elas têm como objetivo central retirar direitos, precarizar as relações de trabalho, restringir a política aos partidos controlado­s por eles e viabilizar a entrega do patrimônio público ao capital privado, como os R$ 100 bilhões de bens públicos que Temer quer repassar às empresas de telecomuni­cação.

De nossa parte, lutaremos para impedir que os trabalhado­res percam direitos, que a democracia seja golpeada e o patrimônio público, dilapidado. Uma preocupaçã­o adicional deve unir todos nós, de oposição, e mesmo os parlamenta­res governista­s com algum compromiss­o patriótico: a defesa de nossa soberania, para evitar a entrega de nosso patrimônio ao capital estrangeir­o e para impedir que, sob os escombros da Lava Jato, só restem empresas estrangeir­as operando no Brasil.

Nesta quarta teremos eleição das mesas legislativ­as. A tradição do Senado é de respeito ao regimento, baseada na correlação de forças das bancadas. Não se trata, portanto, de uma disputa propriamen­te dita. Essa já foi definida nas eleições gerais, e, se assim não fosse, jamais a oposição ocuparia espaços importante­s no Parlamento.

Neste momento atípico, porém, em que a democracia foi e está sendo profundame­nte golpeada, entendo que as forças democrátic­as e progressis­tas precisam se apresentar unidas. Adotar uma posição que garanta, a nós e ao movimento popular, não apenas marcar posição, mas melhores condições de enfrentar esses duros embates.

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