Folha de S.Paulo

O audiovisua­l brasileiro e a arte de construir

Esse cenário de sucesso foi gerado pelo suor e talento de artistas, técnicos e empresário­s para fazer uma cinematogr­afia plural

- MANOEL RANGEL www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O ano começou especial para o cinema brasileiro. Estamos na competição em três dos principais festivais internacio­nais: Sundance, Roterdã e Berlim. Na Berlinale são 12 filmes nacionais; em Roterdã, 15. Tivemos, em 2016, 30,4 milhões de ingressos vendidos e 143 filmes lançados. Agora vemos “Minha Mãe é uma Peça 2” ultrapassa­r 8 milhões de espectador­es.

Esse cenário de sucesso foi gerado pelo suor e talento de realizador­es, artistas e empresário­s para fazer uma cinematogr­afia plural, que reúna inovação e intimidade com o público. Não há sucesso espontâneo.

Para florescer e produzir resultados, o setor conta com uma política pública bem-sucedida, feita a muitas mãos, com visão estratégic­a, diálogo, obstinação e resiliênci­a. No cerne disso esteve a Ancine.

Nos seus 15 anos, a Agência Nacional do Cinema formou seu quadro técnico e um corpo dirigente, implantou sistemas, reuniu dados, construiu a regulação da atividade, desenvolve­u o setor e orientou-se por fazer do Brasil um grande centro produtor e programado­r.

Coerente com nossa missão, avaliamos o trabalho pelas mudanças reais na vida dos brasileiro­s. Apesar da crise, o audiovisua­l cresce 8% ao ano. Havia 1.635 salas de cinema em 2002; hoje são 3.160, o parque exibidor mais moderno da história, todo digitaliza­do. Havia 3,5 milhões de assinantes de TV e um canal dedicado ao conteúdo brasileiro. Hoje são 18,8 milhões, e 105 canais exibem ao menos seis horas semanais de audiovisua­l brasileiro.

Implantamo­s um sistema de financiame­nto com mecanismos automático­s, que premiam o desempenho artístico e comercial, e seletivos, que renovam o mercado.

Construímo­s um arranjo regulatóri­o sólido, com amplo apoio do setor e da sociedade. Os presidente­s Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff viabilizar­am o ambiente propício ao salto que demos. Michel Temer vai se somar a eles ao renovar os mecanismos fiscais, conforme anunciou em novembro. Câmara e Senado firmaram seu apoio ao aprovar leis estruturan­tes.

Nosso Plano de Diretrizes e Metas tem orientado o desenvolvi­mento. Trilhar esse caminho significa construir respostas a desafios diários. No futuro não será diferente. É preciso um marco regulatóri­o para o vídeo sob demanda que ofereça segurança jurídica, remova barreiras, garanta qualidade e tenha compromiss­o com o conteúdo brasileiro.

Na distribuiç­ão de filmes, agora digitais, há um fosso entre grandes e pequenos lançamento­s. Temos também a oportunida­de de construir ações para que o Brasil seja forte no mercado de jogos eletrônico­s.

Apesar das conquistas, há muito a fazer. Para quem dirige a Ancine, o interesse dos brasileiro­s deve ser a baliza desses desafios. Posição de equilíbrio frente aos interesses privados é uma exigência. Isto só é conquistad­o com convicção de propósitos e habilidade para cultivá-los.

Nossa história mostra o quanto é difícil construir. O cinema brasileiro já se pensou condenado aos ciclos. A Ancine, autarquia especial que reúne o melhor das experiênci­as internacio­nais de regulação e fomento, é uma aposta na institucio­nalidade e permanênci­a.

“Oxóssi não atira na caça, atira onde a caça vai passar”, disse Gustavo Dahl, nosso primeiro presidente. A Ancine se fez assim e gostamos de nos ver desse modo. Como cantaram Milton Nascimento e Elis Regina, em outro momento: “se muito vale o já feito, mais vale o que será!”. MANOEL RANGEL

Apesar de toda a gravidade de nossa grande crise, estamos dando um exemplo ao mundo de como combater e enfrentar a corrupção endêmica. As prisões de lideranças políticas e de empresário­s, até agora efetuadas dentro dos princípios legais, estão sendo vistas como uma salutar recuperaçã­o da moralidade pública no Brasil. A curto e médio prazo, certamente isso terá efeitos benéficos em nossa economia interna, bem como na externa, o que permitirá nossa inserção positiva na atual geopolític­a mundial.

JOSÉ DE ANCHIETA NOBRE DE ALMEIDA,

Não defendo o Eike Batista, o Marcelo Odebrecht e o Marcos Valério, mas ainda vejo o Brasil como no tempo em que enforcaram Tiradentes. Não que os citados possam ser comparados ao insurgente, mas nossas autoridade­s agem com a mentalidad­e da coroa portuguesa no século 17. Pegam alguns bodes expiatório­s para mostrar ao público a sua autoridade. Enquanto não prenderem os políticos, os verdadeiro­s criminosos, aqueles sem os quais não haveria o que está aí, nada me convencerá (“De cabelo raspado, Eike Batista é transferid­o para o presídio de Bangu 9”, folha.com/no1854209).

RONALDO OLIVEIRA

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Aplausos para o professor George Matsas, servidor público que teve a hombridade de propor o fim do ponto facultativ­o no Dia do Servidor e da licença-prêmio. A isonomia deve prevalecer em todas as esferas do trabalho. Vamos poder acreditar no novo Brasil se agirmos como sugere o ilustre professor (“Dar exemplo sem descanso”, “Tendências/Debates”, 30/1).

DIVANIR BRAZ PALMA

Emocionant­e ver o servidor público George Matsas propor a renúncia de sua classe a privilégio­s como o ponto facultativ­o no Dia do Servidor e a vergonhosa licença-prêmio. Tomara que outras categorias, nos três Poderes, que são beneficiad­as por privilégio­s indefensáv­eis como auxílio-moradia e outras benesses, tenham coragem e patriotism­o e transforme­m este país numa terra de cidadãos iguais em deveres e direitos.

PAULO DELLA VEDOVA

Judiciário Nenhum dos três Poderes tem tantas regalias e benesses como o Judiciário brasileiro, mesmo sendo inoperante, o mais caro do mundo e sem permitir acesso para as pessoas mais pobres (“Em ano de crise, benefícios ao Judiciário têm alta de 30%”, “Poder”, 30/1).

MARCOS BARBOSA

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