O audiovisual brasileiro e a arte de construir
Esse cenário de sucesso foi gerado pelo suor e talento de artistas, técnicos e empresários para fazer uma cinematografia plural
O ano começou especial para o cinema brasileiro. Estamos na competição em três dos principais festivais internacionais: Sundance, Roterdã e Berlim. Na Berlinale são 12 filmes nacionais; em Roterdã, 15. Tivemos, em 2016, 30,4 milhões de ingressos vendidos e 143 filmes lançados. Agora vemos “Minha Mãe é uma Peça 2” ultrapassar 8 milhões de espectadores.
Esse cenário de sucesso foi gerado pelo suor e talento de realizadores, artistas e empresários para fazer uma cinematografia plural, que reúna inovação e intimidade com o público. Não há sucesso espontâneo.
Para florescer e produzir resultados, o setor conta com uma política pública bem-sucedida, feita a muitas mãos, com visão estratégica, diálogo, obstinação e resiliência. No cerne disso esteve a Ancine.
Nos seus 15 anos, a Agência Nacional do Cinema formou seu quadro técnico e um corpo dirigente, implantou sistemas, reuniu dados, construiu a regulação da atividade, desenvolveu o setor e orientou-se por fazer do Brasil um grande centro produtor e programador.
Coerente com nossa missão, avaliamos o trabalho pelas mudanças reais na vida dos brasileiros. Apesar da crise, o audiovisual cresce 8% ao ano. Havia 1.635 salas de cinema em 2002; hoje são 3.160, o parque exibidor mais moderno da história, todo digitalizado. Havia 3,5 milhões de assinantes de TV e um canal dedicado ao conteúdo brasileiro. Hoje são 18,8 milhões, e 105 canais exibem ao menos seis horas semanais de audiovisual brasileiro.
Implantamos um sistema de financiamento com mecanismos automáticos, que premiam o desempenho artístico e comercial, e seletivos, que renovam o mercado.
Construímos um arranjo regulatório sólido, com amplo apoio do setor e da sociedade. Os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff viabilizaram o ambiente propício ao salto que demos. Michel Temer vai se somar a eles ao renovar os mecanismos fiscais, conforme anunciou em novembro. Câmara e Senado firmaram seu apoio ao aprovar leis estruturantes.
Nosso Plano de Diretrizes e Metas tem orientado o desenvolvimento. Trilhar esse caminho significa construir respostas a desafios diários. No futuro não será diferente. É preciso um marco regulatório para o vídeo sob demanda que ofereça segurança jurídica, remova barreiras, garanta qualidade e tenha compromisso com o conteúdo brasileiro.
Na distribuição de filmes, agora digitais, há um fosso entre grandes e pequenos lançamentos. Temos também a oportunidade de construir ações para que o Brasil seja forte no mercado de jogos eletrônicos.
Apesar das conquistas, há muito a fazer. Para quem dirige a Ancine, o interesse dos brasileiros deve ser a baliza desses desafios. Posição de equilíbrio frente aos interesses privados é uma exigência. Isto só é conquistado com convicção de propósitos e habilidade para cultivá-los.
Nossa história mostra o quanto é difícil construir. O cinema brasileiro já se pensou condenado aos ciclos. A Ancine, autarquia especial que reúne o melhor das experiências internacionais de regulação e fomento, é uma aposta na institucionalidade e permanência.
“Oxóssi não atira na caça, atira onde a caça vai passar”, disse Gustavo Dahl, nosso primeiro presidente. A Ancine se fez assim e gostamos de nos ver desse modo. Como cantaram Milton Nascimento e Elis Regina, em outro momento: “se muito vale o já feito, mais vale o que será!”. MANOEL RANGEL
Apesar de toda a gravidade de nossa grande crise, estamos dando um exemplo ao mundo de como combater e enfrentar a corrupção endêmica. As prisões de lideranças políticas e de empresários, até agora efetuadas dentro dos princípios legais, estão sendo vistas como uma salutar recuperação da moralidade pública no Brasil. A curto e médio prazo, certamente isso terá efeitos benéficos em nossa economia interna, bem como na externa, o que permitirá nossa inserção positiva na atual geopolítica mundial.
JOSÉ DE ANCHIETA NOBRE DE ALMEIDA,
Não defendo o Eike Batista, o Marcelo Odebrecht e o Marcos Valério, mas ainda vejo o Brasil como no tempo em que enforcaram Tiradentes. Não que os citados possam ser comparados ao insurgente, mas nossas autoridades agem com a mentalidade da coroa portuguesa no século 17. Pegam alguns bodes expiatórios para mostrar ao público a sua autoridade. Enquanto não prenderem os políticos, os verdadeiros criminosos, aqueles sem os quais não haveria o que está aí, nada me convencerá (“De cabelo raspado, Eike Batista é transferido para o presídio de Bangu 9”, folha.com/no1854209).
RONALDO OLIVEIRA
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Aplausos para o professor George Matsas, servidor público que teve a hombridade de propor o fim do ponto facultativo no Dia do Servidor e da licença-prêmio. A isonomia deve prevalecer em todas as esferas do trabalho. Vamos poder acreditar no novo Brasil se agirmos como sugere o ilustre professor (“Dar exemplo sem descanso”, “Tendências/Debates”, 30/1).
DIVANIR BRAZ PALMA
Emocionante ver o servidor público George Matsas propor a renúncia de sua classe a privilégios como o ponto facultativo no Dia do Servidor e a vergonhosa licença-prêmio. Tomara que outras categorias, nos três Poderes, que são beneficiadas por privilégios indefensáveis como auxílio-moradia e outras benesses, tenham coragem e patriotismo e transformem este país numa terra de cidadãos iguais em deveres e direitos.
PAULO DELLA VEDOVA
Judiciário Nenhum dos três Poderes tem tantas regalias e benesses como o Judiciário brasileiro, mesmo sendo inoperante, o mais caro do mundo e sem permitir acesso para as pessoas mais pobres (“Em ano de crise, benefícios ao Judiciário têm alta de 30%”, “Poder”, 30/1).
MARCOS BARBOSA