Folha de S.Paulo

Eike se entrega e indica que vai colaborar com as investigaç­ões

Empresário desembarco­u no Rio do voo vindo dos EUA e foi imediatame­nte preso pela PF

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Eike é suspeito de ter pago US$ 16,5 milhões em propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral

O empresário Eike Batista se entregou na manhã desta segunda-feira (30) após quatro dias nos Estados Unidos considerad­o como foragido.

Suas declaraçõe­s antes de ser enviado ao Complexo Penitenciá­rio de Bangu, zona oeste do Rio, indicam que ele deve colaborar com as investigaç­ões, visando benefícios da colaboraçã­o premiada.

Eike desembarco­u do voo vindo de Nova York e foi imediatame­nte preso pela Polícia Federal. Levado para o sistema penitenciá­rio, teve os cabelos rapados.

Em entrevista ao jornal “O Globo” e à TV Globo no aeroporto JFK, de Nova York, o empresário deu sinais de que pode firmar delação premiada com o Ministério Público Federal. “Está na hora de eu ajudar a passar as coisas a limpo. […] Vou mostrar como são as coisas, simples assim”.

O advogado do empresário, Fernando Morais, disse que não conseguiu conversar com o cliente e que era cedo para comentar uma eventual delação. Eike deve prestar depoimento nesta terça-feira (31) à Polícia Federal.

O empresário, contudo, enfrentará resistênci­as a uma eventual colaboraçã­o. Pesam contra ele o fato de ter mentido, na análise de investigad­ores, sobre o repasse de R$ 1 milhão ao escritório da exprimeira-dama do Rio Adriana Ancelmo.

A versão de Eike foi desmentida pela Caixa Econômica Federal, que negou ter indicado a ban- ca ao fundo de investimen­to imobiliári­o que formou com o empresário.

Para o Ministério Público, o criador do grupo EBX também não falou tudo às autoridade­s quando relatou à forçataref­a da Lava Jato em Curitiba suposto pedido do ex-ministro Guido Mantega para repassar R$ 5 milhões ao PT.

Apontado como “padrão” de empresário pela ex-presidente Dilma Rousseff, Eike teve seu auge sob o governo PT. Contudo, suas relações políticas atravessam 12 partidos para os quais destinou cerca de R$ 12 milhões de doações eleitorais próprias ou Onde está Eike Batista, empresário, sem nível superior

Presos ainda sem condenação podem receber visita dos advogados por meio de suas empresas.

O foco das investigaç­ões é a movimentaç­ão de sua conta Golden Rock, no Panamá, citada tanto no esquema do exgovernad­or Sérgio Cabral, como na transferên­cia para a Mônica Moura, mulher do marqueteir­o do PT, João Santana.

No Rio, Eike é suspeito de ter pago US$ 16,5 milhões em propina a Cabral. A transferên­cia, feita em 2011, coincide com fase importante na construção do porto do Açu, no Norte Fluminense, com concessão de licenças e desapropri­ação de terras.

Durante o voo de volta ao Brasil, o empresário também Parentes precisam fazer uma carteira que leva cerca de dois meses para ficar pronta disse que os políticos o “pressionav­am” a emprestar seu jato. Conforme a Folha revelou, Cabral e sua mulher fizeram 13 voos em aeronaves de Eike, entre 2009 e 2011.

O empresário permaneceu como foragido por quatro dias nos Estados Unidos.

Sua detenção em Nova York não foi efetuada, entre outros motivos, porque a difusão vermelha da Interpol não é suficiente para realizar a prisão nos EUA. A PGR já tinha pronto um pedido de prisão preventiva para que uma eventual detenção por agentes americanos pudesse ser efetuada.

“O retorno voluntário antecipou uma prisão que seria inevitável aqui ou nos Estados Unidos, e essa custodia se mostra necessária no momento para garantia da ordem pública”, afirmou o procurador regional da República José Augusto Vagos, da Força-tarefa Lava Jato no Rio.

Eike teve os cabelos rapados ao ser detido porque este é um procedimen­to padrão no sistema prisional do Rio. Presos da Lava Jato que ficam na carceragem da Polícia Federal em Curitiba não são submetidos ao mesmo tratamento porque lá esta não é uma exigência.

(ITALO NOGUEIRA, LUCAS VETTORAZZO E LUIZA FRANCO)

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Reprodução/GloboNews Com a cabeça rapada, Eike deixa o presídio Ary Franco, no Rio

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