Antes festejado, líder mexicano sofre ao lidar com Trump
DE BUENOS AIRES
A margem pela qual Enrique Peña Nieto, 50, venceu as eleições mexicanas de 2012 (38,15% contra o esquerdista López Obrador, com 31,64%) deixou claro que sua vida não seria fácil.
Num primeiro momento, ele recebeu amplo apoio internacional. Entre suas bandeiras estavam um aprofundamento da relação de comércio bilateral com os EUA e do Nafta (tratado de livre comércio entre EUA, México e Canadá), além de uma reforma energética que privatizaria parte da exploração de petróleo, prometendo abrir o país ao investimento estrangeiro no setor.
Tanta era a festa que Peña Nieto foi parar na capa da “Time”, que titulava, sobre seu retrato, “Saving México” (salvando o México).
Até a oposição saudou seus primeiros gestos, como o de formar uma aliança entre os partidos de oposição para garantir uma base no Congresso —no qual não tinha maioria— que permitisse reformas na Constituição. A lua de mel, porém, durou pouco.
Peña Nieto começou bem na economia, com o país crescendo 4%, a reforma energética exitosa e com um investimento pesado num polo tecnológico no centro do país.
Tudo isso hoje está em suspenso depois da posse de Trump. A primeira ação do governo mexicano, ainda durante a campanha do republicano, já havia causado uma onda de revolta no país.
Trump, que vinha chamando os mexicanos de “estupradores” e “narcotraficantes”, foi convidado por Peña Nieto a visitar o país. A estratégia era iniciar um diálogo que prevenisse a fúria do bilionário contra os investimentos de empresas norte-americanas no México e a entrada de imigrantes nos EUA.
O resultado foi que Trump humilhou Peña Nieto ao dizer publicamente, na entrevista que deram após o encontro, que os EUA iriam exigir que o México pagasse pelo muro. Peña Nieto não contestou imediatamente.
Só horas mais tarde, postou numa rede social mensagem dizendo que não havia “repetido” que não pagaria o muro porque já dissera antes, logo que se saudaram.
Mas o dano estava causado, e os mexicanos voltaram às ruas, pedindo a renúncia do presidente.
Agora, com Trump eleito, Peña Nieto se vê sob intensa pressão. O novo ocupante da Casa Branca assinou um decreto para dar andamento ao muro e forçar a devolução de imigrantes ilegais ao país.
Num momento tardio de sua gestão, Peña Nieto, agora com apenas 12% de aprovação, pela primeira vez fez algo em que foi apoiado quase que por unanimidade por seus compatriotas.
Recusou-se a comparecer à reunião marcada para a semana passada com Trump em Washington e disse que “o México não pagará pelo muro” que o americano quer erguer na fronteira.
Restam ainda dois anos de mandato, mas já começa a corrida eleitoral de 2018.
López Obrador, de perfil populista e nacionalista de esquerda, dispara nas pesquisas. Após ter perdido duas eleições em parte por ter um discurso um tanto radical, seu tom começa a soar apropriado para tempos como estes. (SYLVIA COLOMBO)