Atletas e dirigentes temem impacto com ordem de Trump na imigração
EUA tem intenção de sediar eventos como Copa do Mundo e Olimpíada
ESPORTE INTERNACIONAL
A proibição do presidente Donald Trump à entrada de visitantes de sete países majoritariamente muçulmanos nos EUA pode ter impacto forte sobre o esporte internacional, o que inclui ameaças ao relacionamento estreito com o Irã na luta livre e às chances de Los Angeles de sediar a Olimpíada de 2024 e dos EUA de organizarem a Copa do Mundo de 2026.
No sábado (28), as autoridades esportivas ainda se esforçavam para compreender as implicações da ordem de Trump, entre as quais determinar se atletas dos países da lista poderiam entrar nos EUA para disputar competições.
“Estamos trabalhando em estreito contato com o governo para compreender a nova regra e como melhor lidar com ela no que tange a atletas visitantes”, disse Patrick Sandusky, porta-voz do Comitê Olímpico dos EUA.
O efeito mais imediato pode vir na luta livre, já que um dos países afetados pela proibição de Trump é o Irã, cujo relacionamento com os EUA nesse esporte é longo e cordial. O Irã anunciou que impediria a entrada de cidadãos americanos no país, em retaliação à ordem de Trump.
A equipe de luta livre norte-americana deveria participar da Copa do Mundo da modalidade no Irã, que começa em 8 de fevereiro. Steve Fraser, o responsável pela arrecadação de verbas da federação de luta livre, disse que o presidente da federação iraniana se reuniria com as autoridades de seu país em uma tentativa de garantir o convite aos norte-americanos.
“Há algum nervosismo, de nossa parte, com a possibilidade de que o governo iraniano diga que, se eles não podem ter vistos para vir aqui, os norte-americanos tampouco poderão ir para lá”, disse.
Embora boicotes olímpicos já tenham surgido por conta de tensões políticas entre nações, países adversários em muitas ocasiões encontraram terreno comum nos campos de esporte. Um dos exemplos mais célebres é a chamada “diplomacia do ping-pong”, que ajudou a firmar o relacionamento entre os EUA e a China nos anos 1970. CANDIDATURAS A proibição ao ingresso de visitantes de sete países —Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão— surge em um momento delicado para o comitê olímpico dos EUA.
Los Angeles quer sediar a Olimpíada de 2024, e a decisão sobre a sede dos jogos, na qual a cidade enfrenta candidaturas rivais de Paris e Budapeste, sai em setembro.
David Wallechinsky, membro americano da comissão de herança e cultura do COI, disse que a eleição de Trump em novembro prejudicou a candidatura de Los Angeles.
Há também expectativas de uma candidatura à Copa do Mundo de 2026. Em junho, Sunil Gulati, presidente da federação dos EUA, disse que uma presidência de Trump complicaria a candidatura norteamericana, especialmente no caso de candidatura conjunta com o México, dados os planos de Trump para construir uma muralha na fronteira.
Ainda restam perguntas sem resposta sobre a situação de viagem de diversos atletas. Dois jogadores de basquete da NBA, Thon Maker, do Milwaukee Bucks, e Luol Deng, do Los Angeles Lakers, nasceram no Sudão, um dos sete países da lista de Trump. Os dois, porém, são de Wau, parte do Sudão do Sul, que se tornou independente do Sudão em 2011.
A NBA quer realizar um acampamento de Basquete Sem Fronteiras, em fevereiro em Nova Orleans. Em 2016, nomes de 25 países participaram do evento, entre os quais o iraniano Amir Reza Shah Ravesh.
No domingo (29), o corredor Mo Farah, que nasceu na Somália e conquistou quatro ouros olímpicos, criticou a medida do presidente dos EUA.
“Trump parece ter me tornado um alienígena [com a medida]”, disse o atleta.
Abdi Abdirahman, que disputou quatro Olimpíadas pelos EUA e terminou a maratona de Nova York em terceiro lugar no ano passado, também nasceu na Somália. A maratona de Nova York costuma atrair atletas do mundo inteiro.
“Nosso objetivo é sempre recrutar os melhores atletas, e os mais limpos, não importa de onde venham”, afirmou Chris Weiller, porta-voz da New York Road Runners, que organiza a maratona.
PAULO MIGLIACCI