Limites para Trump
SÃO PAULO - A essa altura, parece mais ou menos claro que Donald Trump não vai descer do palanque tão cedo. Ele vem tomando medidas para pôr em prática todas as suas promessas de campanha, mesmo as mais delirantes. O importante, então, é saber se e em que escala ele será contido pelo aparato institucional norte-americano.
O primeiro teste ocorreu neste fim de semana. Diante do caos instalado com o decreto que limitou a entrada de estrangeiros, juízes não tardaram em conceder liminares suspendendo alguns dos efeitos da medida. Percebendo que esbarrara na lei, Trump recuou parcialmente —o que não deixa de ser uma boa notícia.
É claro que o que ele fez já basta para ser vendido como uma vitória a seus eleitores. Trump, afinal, pode dizer a seus simpatizantes que está trabalhando para tornar as fronteiras seguras. Quanto ao resto da audiência, que inclui a maioria dos cidadãos americanos (Hillary venceu no voto popular), muitos dos dirigentes de países aliados e um bom pedaço da opinião pública mundial, ela não está entre as prioridades de Trump.
É possível que, em algum momento, isso mude, mas, por enquanto, o novo presidente está tentando provar que é um homem de palavra e cumpre suas promessas. Faz sentido. Se agisse de outra forma, seria classificado como um político igual aos outros e rapidamente perderia sua volúvel base de apoio. Ademais, sair logo de cara atirando para todos os lados contribui para a reputação de jogador duro, que poderá ajudálo em futuras negociações.
O ponto central é que muitas das políticas de Trump, além de imorais, são incoerentes. Um exemplo: se os EUA de fato liderarem um movimento antiglobalização, empresas e consumidores americanos estarão entre os que mais perderão. Durante um tempo, até dá para enrolar, recorrendo a truques econômicos e aos “fatos alternativos”, mas em algum momento a realidade cobrará seu preço. helio@uol.com.br