Folha de S.Paulo

Novo presidente do Senado, Eunício dá recado a Judiciário

Peemedebis­ta prometeu ser duro quando um Poder se levantar contra outro

-

Citado em delação, cearense foi escolhido como sucessor de Renan Calheiros por 61 dos 81 senadores

Eleito presidente do Senado nesta quarta-feira (1º) por 61 dos 81 colegas, Eunício Oliveira (PMDB-CE) usou seu discurso de apresentaç­ão para enviar recados enfáticos a cada um dos três Poderes.

Ao Congresso, assegurou que atuará como uma espécie de embaixador dos políticos. Ao governo Michel Temer, prometeu parceria na aprovação de reformas e unidade para superar a crise.

A única mensagem dura foi feita de maneira velada e endereçada ao Judiciário. Sem citar o Supremo Tribunal Federal ou a Operação Lava Jato, Eunício prometeu “ser firme, duro e líder quando um Poder parecer se levantar contra outro Poder”.

O senador cearense foi alçado ao comando do Senado com base em uma aliança com seu antecessor no posto, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que agora será líder do PMDB. “Foi o caminho da tradição que me trouxe até aqui”, afirmou. “Não navegarei sozinho e não deixarei nosso barco à deriva.”

O PMDB está na presidênci­a da Casa desde 2001.

Eunício citou o combate à corrupção em só uma ocasião de sua fala, ao dizer que atuará para que a Casa “não perca a corrente contemporâ­nea da luta contra a corrupção”.

Renan foi um crítico do que chamou por vezes de usurpação de prerrogati­vas do Congresso e abusos do Judiciário. Ao se apresentar ao plenário, Eunício sinalizou que pretende adotar a mesma linha.

Tanto ele como Renan foram citados por delatores da Lava Jato. Renan responde a oito inquéritos no esteio da investigaç­ão. Eunício não é alvo de abertura de inquérito, mas é acusado de ter recebido dinheiro ilícito para a campanha e de ter negociado mudanças em medidas provisória­s com a Odebrecht.

Em seu discurso de despedida, Renan defendeu a investigaç­ão, mas cobrou “transparên­cia”. “É preciso que se derrube o sigilo para que a população não seja manipulada, que é infelizmen­te o que tem acontecido.”

Foi uma referência à delação da Odebrecht, homologada pela presidente do STF, Cármen Lúcia, mas mantida sob sigilo por decisão dela.

A Lava Jato e suas implicaçõe­s estão hoje no centro das preocupaçõ­es do Congresso, do PMDB e do governo Temer.

A proeminênc­ia da operação, por exemplo, deu peso à Comissão de Constituiç­ão e Justiça, que tem entre as atribuiçõe­s sabatinar nomes indicados ao Supremo e o procurador-geral da República.

Com a morte do ministro Teori Zavascki, são fortes as movimentaç­ões no PMDB para emplacar no STF um nome que não seja “avesso à política”, mas sim “palatável à CCJ e ao Senado”. Ganhou força na bancada plano de fazer de Edison Lobão (PMDB-MA) o presidente deste colegiado. CÂMARA (PSD-DF), que resolveu se retirar da disputa. O PSOL lançou Luiza Erundina (SP) e o PSC, Jair Bolsonaro (RJ).

O ministro do Supremo Celso de Mello negou nesta quarta os pedidos para impedir que Maia concorra à presidênci­a da Câmara. Os adversário­s questionam a legalidade de sua candidatur­a à reeleição.

(DÉBORA ÁLVARES,

 ?? Alan Marques/Folhapress ?? O novo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE)
Alan Marques/Folhapress O novo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil