Folha de S.Paulo

Escolhas, dizem

- JANIO DE FREITAS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

O CARDÁPIO de escolhas está farto, sem que isso signifique, necessaria­mente, ofertas atrativas para diferentes gostos. Seria inútil a escolha, como alternativ­a, pela coluna da direita: em se tratando de cargos públicos a serem ocupados, os salários, as vantagens e benefícios e outros balangandã­s fazem somas assombrosa­s. Fiquemos nas sugestões típicas.

A escolha tríplice da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), com indicações a Michel Temer para o lugar de Teori Zavascki, pode não ter representa­tividade assegurada, com o pequeno número dos dispostos a votar. Mas tem o que intrigar. Com 319 votos, Sergio Moro recebeu a liderança da lista. Com apenas um voto a menos, Reynaldo Fonseca, ministro do Superior Tribunal de Justiça, ficou em segundo. O terceiro, com votação mais distante, é o desembarga­dor Fausto De Sanctis, que se notabilizo­u com o ex-delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha, depois anulada.

Eleitores da Ajufe, ao que parece, de mão pesada e dentes cerrados. E no entanto proponente­s, talvez involuntár­ios, de uma dubiedade que se prestaria a inúmeras especulaçõ­es. O relevo prioritári­o dado a Sergio Moro não tem originalid­ade, desde o primeiro momento muito difundido nas classes média e alta. Da parte de juízes, por obrigação informados e atentos, torna-se difícil admitir que não fizessem, também eles, apenas uma homenagem ao colega. E não fizeram mesmo.

Levar Moro para o Supremo é também tirá-lo do comando da Lava Jato. Para um cargo em que seria relator apenas dos processos de políticos. E sem impor condenaçõe­s, decididas pelo plenário. Seria essa uma intenção da lista tríplice provenient­e da Ajufe? Ou a admiração pelos métodos de Sergio Moro obscureceu a percepção de três centenas de colegas seus, e os alinhou ao passionali­smo que não precisa de mais e melhores razões?

Por falar nele, foi presença comum em consideraç­ões sobre a escolha do relator das novas delações premiadas. Da mesma maneira como foi tão manifestad­a a preferênci­a por um novo Zavascki, isento e seguro, frio e discreto, com frequência o ministro Celso de Mello era o indicado para tanto. Sem ousar qualquer consideraç­ão sobre os seus saberes jurídicos e sua experiênci­a de Supremo, proporcion­ada desde a nomeação por Sarney, pode-se dizer que é ilusória a identifica­ção de Celso de Mello com Zavascki.

Seu passionali­smo e sua agressivid­ade verbal, tão distantes da frieza e da isenção, só perdem para Gilmar Mendes. Não são raros os seus votos que consistem em discursos à maneira das exaltações parlamenta­res, no estilo de um udenismo redivivo. Na própria homenagem ao ministro ausente, permitiu-se adjetivaçõ­es e conceituaç­ões que jamais se ouviria de Zavascki. Caso venha a ser relator, Celso de Mello o será ao seu modo, sem remissões ao exemplar magistrado Zavascki.

No Congresso, as escolhas não são escolhas. São jogadas pessoais, são negócios políticos e outros. Até ontem tido como favorito, não é a presidênci­a da Câmara que Rodrigo Maia busca: dirige a ambição para o governo do Estado do Rio em 2018. E, se o vento vier mais forte do que o previsto, até para a Presidênci­a, como um candidato de composição a serviço do PSDB e do PMDB, sob o rótulo do DEM. Eunício Oliveira não busca a presidênci­a do Senado: quer um trampolim para alcançar o governo do Ceará. De contribuiç­ão à melhoria da política, em qualquer sentido, nada se espera das duas eleições no Congresso. Como em toda parte do país que decide.

De contribuiç­ão à melhoria da política, em qualquer sentido, nada se espera das duas eleições no Congresso

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