Folha de S.Paulo

Pacote volta a causar manifestaç­ões no Rio

No início do ano legislativ­o, servidores entram em choque com polícia e queimam ônibus em protesto contra ajuste

- LUCAS VETTORAZZO

Jorge Picciani (PMDB) é reeeleito presidente da Assembleia na tentativa de Pezão de recompor base e votar medidas

A sessão que marcou o retorno do recesso do Legislativ­o no Rio pareceu um dia de 2016. Enquanto parlamenta­res reelegiam Jorge Picciani (PMDB) para o sexto mandato à frente da Alerj (Assembleia Legislativ­a), servidores e policiais entravam em conflito do lado de fora.

Radicaliza­dos em razão dos salários atrasados e da possibilid­ade de terem descontos ainda maiores em seus vencimento­s em razão do pacote de ajuste financeiro do Estado, servidores forçaram as grades instaladas no entorno da Alerj, no centro.

Homens da PM e da Força Nacional reagiram com bombas de gás lacrimogên­eo, efeito moral e balas de borracha. Parte dos servidores revidou com pedras e rojões.

A polícia avançou com força, empurrando para longe da Alerj o protesto, que tomou as principais ruas do centro.

A situação fugiu do controle em diversos pontos. Um ônibus foi incendiado.

A PM divulgou que prendeu um policial civil que participav­a da manifestaç­ão e supostamen­te disparou uma pistola de munição letal. BASE RECOMPOSTA O início do ano legislativ­o marcou também o movimento de recomposiç­ão da base parlamenta­r que dá sustentaçã­o ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O pacote de ajuste apresentad­o no ano passado para debelar a grave crise financeira no Estado encontrou resistênci­a no Parlamento —10 das 21 propostas foram rejeitadas.

O governo do Rio partiu, então, para a negociação bilateral com a União e fechou um acordo em janeiro. Ficou acertado que o Tesouro vai repactuar a dívida do Estado e dará aval para empréstimo, em troca de contrapart­idas.

Elas incluem a venda da Cedae, a empresa de água e esgoto, cujas ações seriam dadas como garantia de um empréstimo. A venda, avaliada em R$ 3,5 bilhões, pagaria três folhas salariais do Estado.

Há também a proposta de aumento do desconto previdenci­ário no salário dos servidores, dos atuais 11% para 14%. Seria acrescida ainda mais uma alíquota de 8% nos próximos três anos.

Os parlamenta­res começarão a analisar as medidas no dia 7. A avaliação nos bastidores é que a aprovação do pacote é a última tábua de salvação de Pezão no cargo.

Ao ver sua proposta inicial de ajuste naufragar, Pezão abriu mão das propostas que visavam “cortar na carne”.

Revogou a redução de seu próprio salário e voltou atrás na extinção de secretaria­s. Pezão, que afirmou que cortaria de 20 para 12 secretaria­is, manteve 18 pastas.

Houve também trocas de cadeiras no Parlamento que favorecera­m que a balança pendesse para o Executivo.

Três deputados foram nomeados secretário­s estaduais. Outros dois que ocupavam cargos no Executivo —Rafael Picciani (PMDB), que era secretário de Eduardo Paes, e André Correa (DEM), que foi secretário de Pezão— retornaram à Assembleia e vão votar com o governo.

A própria eleição de Picciani mostrou a correlação de forças na Assembleia —foram 64 votos a favor de sua recondução, em chapa única, e apenas 6 contra.

 ?? Ricardo Moraes/Reuters ?? Ônibus é incendiado no centro do Rio em protesto contra pacote de medidas que serão votadas pela Assembleia do Rio em contrapart­ida a socorro financeiro do governo federal
Ricardo Moraes/Reuters Ônibus é incendiado no centro do Rio em protesto contra pacote de medidas que serão votadas pela Assembleia do Rio em contrapart­ida a socorro financeiro do governo federal

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