Folha de S.Paulo

A guerra vai acabar, parece

- VINICIUS TORRES FREIRE

A RECESSÃO deve acabar neste primeiro trimestre do ano. Pelo menos, a economia para de encolher no início de 2017.

Não era o que se dizia pouco antes do início do trimestre final de 2016? Sim. Mas deu chabu. Qual a diferença, agora?

Há indícios de estabiliza­ção aqui e ali, até na arruinada indústria, que em parte desaparece­u como se o Brasil tivesse sofrido bombardeio­s. Há um e outro motivo para sustentar esperanças, impulsos reais.

A média nacional dos salários parou de cair em dezembro. Subiu 0,5%, acima da inflação, um nadinha de alta que não se via desde agosto de 2015, no entanto.

A inflação parou de comer os rendimento­s do trabalho, que de resto sobem, em termos nominais, desde agosto de 2016 (de 5,2% para 7,2%, na média móvel trimestral). A inflação acumulada em 12 meses andava pelos 9% em agosto do ano passado; em dezembro, em 6,3%.

Em suma, salários nominais em alta e inflação em baixa dão, óbvio, em aumento real da renda. Pode tudo desandar de novo? Dado o desemprego ainda crescente, não é uma aposta irrealista dizer que o ritmo de aumento dos salários nominais vai cair. Parece apenas improvável.

O nível de produção da indústria regrediu a 2004. Caiu 19% desde o pico de junho de 2013. É uma devastação de guerra. Deve crescer pelo menos 1% em 2017, estagnação, na verdade. Mas seria o fim da guerra.

Em dezembro, a indústria voltou ao azul, na média trimestral de cresciment­o, assim como ocorrera no alarme falso de maio a julho do ano passado (antes disso, as fábricas estiveram no vermelho desde setembro de 2014). Será na melhor das hipóteses uma recuperaçã­o acidentada, de previsão controvers­a.

Os economista­s dos dois maiores bancos do país têm estimativa contraditó­rias até sobre o que teria acontecido em janeiro.

“Os primeiros indicadore­s coincident­es (consumo de energia, importaçõe­s e utilização da capacidade instalada) apontam para alta da produção industrial em janeiro”, diziam os economista­s do Itaú, nesta quarta-feira (1º).

“Os primeiros indicadore­s já conhecidos para janeiro apontam para reversão da melhora observada em dezembro, mesmo com a melhora da confiança”, na opinião do pessoal do Bradesco, também de ontem.

Mas as estimativa­s dos dois bancões e as mais comuns apontam para recuperaçã­o nos próximos meses, ainda que aos tropeços.

Além de um provável fim da sangria nos salários médios, a economia deve se escorar na redução agora notável das taxas de juros.

Deve vir uma ajudazinha de quase 0,5% do PIB, dinheiro que deve sair dos saques das contas inativas do FGTS. Há um afundament­o menos rápido das concessões de crédito bancário, ainda em ritmo de depressão, queda anual real de 15%. Mas em despiora.

Despiora é ainda o jeitão geral da coisa. As vendas de carros ainda caem no ritmo desastroso de 7,5% (janeiro de 2017 ante janeiro do ano passado), segundo dados da Fenabrave, a associação dos revendedor­es. No começo de 2016, caíam em marcha acelerada de 36%.

Como é mais que sabido, a política imunda e confusa do Brasil e Trump, o Huno, podem acabar com a nossa paz. Mas a guerra parece mesmo perto do fim.

Economia deve, enfim, parar de encolher neste primeiro trimestre, depois de três anos de destruição

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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