Temporal derruba muro e fere 41 em festa
‘Rua parecia um rio, só tinha cabeça pra fora’, diz rapaz que ajudou em socorro de alunos de medicina na zona leste
Estudantes tiveram ferimentos leves; rajadas de vento levaram à suspensão de voos em Congonhas
“Ouvi um estrondo, corri pra ver e parecia cena de filme. A rua parecia um rio, e só tinha cabeça pra fora.”
O relato do gerente de produção Rodrigo Severino, 36, é de um dos momentos dramáticos da enxurrada que derrubou um muro e deixou 41 feridos em uma festa universitária de estudantes de medicina, na tarde desta quarta-feira (1º), na zona leste da cidade de São Paulo.
No forte temporal que atingiu a região, um córrego transbordou. A água chegou com força à chácara onde havia uma celebração para calouros da Faculdade Santa Marcelina. Um muro cedeu, levando alunos e carros a serem arrastados —assim como mochilas, documentos e até instrumentos musicais. Severino, morador da rua atingida, ajudou no socorro.
“A água que estava represada começou a levar tudo. Conseguimos subir numa mureta e no palco que havia no local. Em seguida, uma parte do salão cedeu e várias pessoas foram arrastadas”, diz Alexandre Campos Pereira Maia, 21, do 3º ano de medicina.
“A gente viu o muro cedendo e gente sumindo. Só depois da recontagem vimos que todos estavam salvos”, conta.
“Começamos a sentir choques, não muito fortes, mas pensamos que todos poderiam morrer eletrocutados. Daí fomos com a correnteza”, relata Gustavo Alem Melo Ferreira, 21, estudante que sofreu um corte na perna.
O Hospital Santa Marcelina, ao lado da faculdade, diz que, dos 41 feridos atendidos devido ao desabamento, a maioria teve escoriações leves e acabou liberada. No começo da noite, três seguiam hospitalizados e não tinham previsão de alta —apesar de não estarem em estado grave, segundo a instituição.
“É a primeira vez que a chuva arrasta desse jeito as coisas. Nunca vi coisa igual”, afirmou a auxiliar de cozinha Giane Braga, 50, moradora da rua do desabamento.
O volume de água do temporal em São Mateus, bairro da zona leste próximo da região do desabamento, chegou a 89,4 mm —equivalente a 40% da média histórica de chuva da cidade num mês de fevereiro inteiro.
A festa Caloucura foi organizada pela associação atlética dos alunos de medicina.
Segundo Benedito Salim, 80, dono da chácara, havia 150 pessoas na comemoração, que teve início às 12h.
O local, segundo moradores, é bastante usado para festas e eventos da terceira idade. Tem piscina e funciona também como pousada. ÁRVORE E VENTO Ainda na zona leste, em Itaquera, o rio Verde, próximo ao estádio do Corinthians, transbordou, assim como córregos no Lajeado, no Itaim Paulista e em Guaianases.
No meio da tarde, a chuva já havia derrubado sete árvores, principalmente no centro expandido da cidade.
Na avenida Angélica, em Higienópolis (centro), a queda de uma árvore interditou um quarteirão inteiro, entre as ruas Piauí e Maranhão. Funcionários da prefeitura usaram serras elétricas para cortar o tronco no meio da via e remover os pedaços.
Em razão das rajadas de vento de 53 km/h, o aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, chegou a ter 14 partidas canceladas e 14 chegadas desviadas para outros aeroportos. (GIBA BERGAMIM JR., PAULO SALDAÑA, FABRÍCIO LOBEL E RICARDO BUNDUKY)