Folha de S.Paulo

Para atriz, ‘humor é ferramenta política’

- FELIPE GIACOMELLI

Tão conhecidos são alguns artistas que o público já sabe quando respiram entre uma fala e outra, como olham para a câmera e até quando soltam uma piada.

Não é o caso de Tatá Werneck em “TOC: Transtorna­da Obsessiva Compulsiva”, no qual interpreta a atriz Kika K.

Da Tatá que surgiu na MTV e agora atua na Globo, Kika herdou a capacidade de contar as histórias mais estranhas de um modo que todos acreditem. Mas a atriz diz ter medido os improvisos.

“Eu pensava que podia tentar fazer uma piada e tentar tornar o filme mais engraçado. Mas isso é a minha vaidade, e estaria fugindo totalmente da história que quero contar”, afirma.

No longa, Kika é uma atriz bem-sucedida e onipresent­e em comerciais. Longe das telas, sua vida não anda bem. Está em um relacionam­ento abusivo e questiona a eterna busca pelo próximo papel que a manterá em evidência. Ou seja, ela tem uma vida “invejável”, mas que não a agrada.

“As pessoas criam esse padrão de felicidade, de corpo, de autoestima, de casamento que é apenas para pessoas jurídicas, não para pessoas físicas”, diz. “Esse meio não é real. Nada daquilo é palpável, é só uma ilusão”, diz.

E a própria humorista sabe como é correspond­er a expectativ­as. “Por fazer humor, sempre esperam que eu vá fazer uma gracinha. Quando o meu avô morreu, fui gravar o ‘Tudo Pela Audiência’ logo depois. Era um programa improvisad­o, em que eu dançava lambada com um anão. Eu estava com a dor profunda da perda, e as pessoas dizendo ‘Tatá, você está desanimada hoje’”, lembra.

De volta ao longa, Kika passa a ignorar a opinião alheia, termina com o namorado-galã e começa a sair com um livreiro. É o gancho para outra crítica: de como uma mulher é julgada ao sair e entrar em um relacionam­ento.

Também há espaço para mexer com o ego das estrelas. Tatá não se cansa de ouvir durante a história que não é bonita. E sobra até para Caio Castro, galã da Globo que nem faz parte do elenco, mas é estereotip­ado na alcunha de Caio Astro (Bruno Gagliasso).

Foi para contar uma história engraçada, mas com reflexão, que a humorista quis participar de “TOC”.

“O humor tem essa capacidade de transforma­r, de instigar. É uma ferramenta política. E ele tem também uma autodefesa ao dizer que é piada”, afirma.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil